quarta-feira, 25 de junho de 2008

ECONOMIA CRIATIVA: Um olhar estrangeiro

Reconhecer a diferença e não homogeneizar a riqueza cultural brasileira que está nas favelas e, ao mesmo tempo, nas classes mais abastadas. É o que Jordi Pardo, diretor do Laboratório de Cultura da Barcelona Media, defende quando o assunto é o grande potencial de desenvolvimento da economia criativa no Brasil. Jordi fala do projeto 22@Barcelona como uma referência, que visa à construção de um espaço empresarial e cultural em uma área de 4 milhões de m2 na cidade espanhola, com oportunidade de emprego para mais de 130 mil pessoas. O projeto deve ter sua primeira metade concluída em 2008 e abrigará desde instituições públicas, como universidades e órgãos oficiais, até corporações, como Telefónica e Yahoo.

Em entrevista exclusiva ao Nós da Comunicação, concedida durante sua visita ao Rio de Janeiro, Jordi aponta o Brasil como uma potência cultural, criativa e com oportunidades excepcionais. Mas lembra que, para isso, é necessário criar mecanismos que possibilitem descobrir os grandes talentos e, a partir daí, abrir as portas para a democracia cultural e econômica.

Nós da Comunicação – Como a diversidade cultural brasileira pode ser utilizada no fomento da economia criativa no país?
Jordi Pardo – A economia criativa é uma leitura contemporânea. As Nações Unidas já estão vivenciando essa nova realidade e sabem que, atualmente, esse setor já corresponde a 8 por cento do PIB mundial. Uma cultura rica, diversa e diferenciada tem mais oportunidades de negócios para oferecer e, portanto, pode ser uma economia mais criativa e inovadora. Qualquer projeto baseado na diversidade tem mais força para se desenvolver. O Brasil conta com variedade de tradições e culturas, tornando o seu potencial ainda maior.

Nós da Comunicação – Como percebe o potencial do Brasil para a economia criativa?
J. P. - Na economia criativa, há um mapa de setores, que vai da arquitetura e do urbanismo ao turismo. Se observarmos o arranjo estrutural de cada um deles, vemos o grande potencial de crescimento do Brasil. Um exemplo é o próprio turismo. Por ter clima favorável e cidades exuberantes, o Brasil tem um potencial de crescimento extraordinário, mas esse é apenas um segmento no setor da economia criativa. Em 2005, o país recebeu três bilhões de euros de receita do turismo, volume pequeno comparado ao dos países que têm investido no setor. Isso mostra que o Brasil pode crescer muito em todas as áreas, como produção de conteúdo e indústrias culturais. Mas ainda há um caminho a ser percorrido.

Nós da Comunicação - Assim como ocorreu em Barcelona?
J. P. - Não é necessário olhar para outro exemplo, porque não acredito que haja soluções que possam ser copiadas literalmente. O interessante é que o Brasil tem muitos potenciais e, em função disso, pode se tornar uma potência mundial em diferentes setores, inclusive turística. No entanto, o país pode cair nos mesmos erros cometidos em Barcelona, hoje a segunda maior potência em turismo. Para se ter uma idéia, o turismo catalão teve impacto de 12 por cento no PIB nacional, a cidade de Barcelona participou com 14 por cento e a cultura com 4 por cento. Por isso, o importante não é copiar o que fizemos bem, mas evitar os erros que cometemos para que o Brasil possa crescer melhor e com programa adequado.

QUAIS OS CAMINHOS A SEGUIR?

Nós da Comunicação - Que exemplos citaria de países que conseguiram desenvolver o setor da economia criativa?
J. P. - Os exemplos são os que temos acompanhado atualmente em Barcelona e nas demais cidades da Europa. Vale observar a grandeza dessa economia por ser muito mais democrática que qualquer outra grande revolução econômica. Isso porque nela o fundamental é o talento, a cultura e o conhecimento, patrimônios de todos os povos. Em função disso, todos têm potencial de crescimento. Mas é importante unir esses elementos por meio da tecnologia. E o Brasil tem partida tecnológica e também management. Mas ter os ingredientes não basta. É preciso ter gestão voltada para management, tecnologia e cultura.

Nós da Comunicação - Qual o papel do governo na consolidação desse setor?
J. P. - Mais importante que o papel do governo é a atitude de cada pessoa. É preciso despertar o sentimento nos profissionais envolvidos no desenvolvimento da economia criativa, porque há um futuro promissor. Mas isso não depende apenas do governo, depende da força de cada um e da sua postura profissional. É claro que o relacionamento entre o setor público e o privado também é fundamental. E aqui, no Brasil, há muitíssimo para fazer. Como motores das iniciativas da economia criativa, as pessoas, a sociedade civil, o setor privado - que já está promovendo ações bastante interessantes - e o setor público devem se unir em prol desse grande projeto.

Nós da Comunicação - A partir do estágio atual da economia criativa no Brasil, como analisa o futuro desse setor no país? Estamos no caminho certo?
J. P. - Os brasileiros estão dando passos interessantes. Não apenas por realizar fóruns sobre economia criativa, mas porque o ministro da Cultura, Gilberto Gil, assumiu essa missão. Isso pode ajudar da iniciativa privada à administração pública, incluindo a sociedade civil nos seus diferentes níveis. Já é um caminho. E digo mais: seria interessante realizar fóruns para compartilhar as boas experiências e as iniciativas já realizadas, de forma a divulgar e a ampliar ainda mais o setor em todo o país.

Cristina Souto Rangeiro
Fonte: Nós da Comunicação

Economia criativa: modo de usar

De acordo com o Sistema de Informações e Indicadores Culturais de 2006, elaborado pelo IBGE em parceria com o Ministério da Cultura, o Brasil tem cerca de 89 milhões de trabalhadores com idade a partir de 10 anos. Destes, 4,2 milhões, ou 4,8, estão inseridos em atividades com algum viés cultural. Os dados revelam um potencial evidente para o desenvolvimento da chamada economia criativa (ou economia da cultura) no país. Mas tais evidências ainda não foram percebidas pela maioria das empresas brasileiras, que - por desconhecimento e/ou conservadorismo - deixam de explorar um filão que já responde por 8 do PIB mundial.

A análise é de Lala Deheinzelin, fundadora da Enthusiasmo Cultural, empresa especializada em desenvolver estratégias governamentais e corporativas de economia criativa. Consultora especial da ONU para o tema, ela revela aspectos de um conceito que já faz parte do novo cenário corporativo, no qual o comunicador enfrentará novos desafios, tornando-se um profissional transdisciplinar.

INGLATERRA VISIONÁRIA
Uma das chaves para se entender a economia criativa é diferenciar produção artística de cultura. Esta deve ser percebida, portanto, num sentido mais abrangente. “Arte é apenas um dos aspectos da economia criativa, um conceito muito mais amplo, incluindo setores que têm na cultura e na criatividade sua matéria-prima. Áreas como entretenimento e turismo, por exemplo, fazem interfaces com a cultura”, diz Lala.

Economia criativa, portanto, abarca atividades divididas em quatro núcleos: artes, produção de conteúdos, serviços criativos e entretenimento. Esse imenso leque inclui não apenas as chamadas indústrias culturais e o artesanato, mas também segmentos como design, arquitetura, moda, software e festas populares tradicionais, entre outros.

O conceito de economia criativa surgiu na Austrália, em 1994, mas se consolidou em 1997, na Inglaterra. Diante de um cenário econômico sombrio, o então primeiro-ministro britânico, Tony Blair, identificou 13 setores, chamados de ‘indústrias criativas’, com potencial para dar novo fôlego à economia nacional. Em comum entre eles, a possibilidade de gerar direitos de propriedade intelectual. Em 2006 foi criado, no país, o Ministério das Indústrias Criativas, para gerir um mercado que atualmente emprega 1,3 milhão de pessoas e gera 112 bilhões de libras por ano (cerca de 416 bilhões de reais).

No Brasil, o debate sobre economia criativa foi deflagrado pelo Fórum Internacional de Indústrias Criativas, realizado em Salvador, em 2005. Um importante desdobramento foi a inclusão de um módulo voltado para o setor dentro do Fórum Cultural Mundial do Rio de Janeiro, em 2006.

SUSTENTABILIDADE CRIATIVA
Apesar do pioneirismo e dos expressivos números britânicos, Lala acredita que o Brasil tem condições de produzir um diferencial. “O que temos trabalhado é a economia criativa voltada para o desenvolvimento sustentável. O Brasil é capaz de inovar em linguagens, em modelos de gestão. A experiência do Reino Unido gerou desenvolvimento econômico, mas não sustentabilidade, não agregou”, analisa. De acordo com ela, países como Chile, Argentina e Austrália também já desenvolvem iniciativas interessantes.

Lala cita como exemplo concreto dessa potencialidade o São Paulo Fashion Week, referencial no universo da moda. “Não há um similar com esse tamanho e essa diversidade. É um modelo inovador, pois parte do pressuposto que a indústria da moda não existe sozinha”, aponta. Outra iniciativa nacional destacada por ela é a Apoena, combinação de ONG e conceituada grife que reúne 600 bordadeiras, moradoras de comunidades de baixa renda do Distrito Federal. O projeto mantém um instituto, no qual as mulheres têm a oportunidade de estudar arte e aprender novas técnicas. “É uma interface entre negócios e economia solidária”, sintetiza Lala.

Na opinião da consultora, a economia criativa - sobretudo em países do hemisfério Sul - deve ser feita a partir de modelos de gestão e de negócios baseados em diversidade. “Trata-se de uma estratégia de desenvolvimento. A questão da criatividade será o grande diferencial para os negócios no século 21. Viveremos uma era de culturalização dos negócios”, projeta.

COMUNICADOR TRANSDISCIPLINAR
Lala enfatiza a importância da criatividade quando o assunto é a situação das empresas brasileiras diante do panorama descortinado pela economia criativa. “Estamos num estágio muito atrasado. Um exemplo é a indústria têxtil do Brasil. A solução não é competir com a China, por exemplo. Ela estará no design inovador, no comércio justo, na diversidade cultural. E nossas empresas ainda não investem nesse potencial”, constata.

Esse desconhecimento pode ser explicado pela dificuldade de mensurar aspectos da cultura muitas vezes intangíveis. Segundo Lala, o Sistema de Informações e Indicadores Culturais, iniciativa do Ministério da Cultura, é louvável, mas os números ainda são restritos. “Esse é um trabalho complexo. Não se pensa a economia da dança, por exemplo, com tudo o que envolve essa atividade, todas as interfaces. É um problema mundial mensurá-las. A economia vai ter que mudar seus valores para medir ativos intangíveis”, prevê.

Uma das possibilidades de expansão da economia criativa - tornando-a mais palatável e atrativa para nossas empresas - é o estudo do segmento pelo meio acadêmico. Pesquisas já são desenvolvidas em universidades federais de estados como Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, além de instituições de São Paulo, como o Senac e a Universidade São Luís.

Lala percebe ainda a necessidade de adaptação dos profissionais de comunicação ao cenário multifacetado desse setor emergente. “Os profissionais deverão ter uma formação transdisciplinar. Para isso, terão que se reinventar. Os fundamentos da economia criativa são distribuição, visibilidade e articulação. Por isso, a participação do profissional de comunicação é decisiva, pois ele é capaz de colocar diferentes mundos em contato. O comunicador tem o perfil adequado para realizar essa ação.”

Alfredo Boneff
Fonte: Nós da Comunicação

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Palestras do Seminário de Economia Criativa no Senac 11de junho

Para aqueles que estiveram presentes, e para os que não puderam comparecer ao nosso fabuloso evento, abaixo estão reunidas todas as apresentações do Seminário Economia Criativa: Futuro e Oportunidades realizado no Senac no dia 11 de junho de 2008.
Agradeço aos convidados que disponibilizaram esse material.

Lala Deheinzelin - curadora

Economia Criativa e Futuro por Lala Deheinzelin


Oportunidades na Tradição por Helena Sampaio

Estrategias de Cultura e Desenvolvimento por Ana Tomé

Open Business por Oona Castro


Comunicação Digital e Redes Colaborativas por Sergio Xavier

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Palestra com Lala no 6º Seminário de Gestão Empresarial

"PARQUE TECNOLOGICO DA CIDADE SÂO PAULO" - proposta de moobilização de ciência, tecnologia e habitat de inovação para a cidade

Proposta:
Saúde, Educação, Trabalho e renda, Habitação, Meio ambiente, Cultura, Orçamento, Acompanhamento do Legislativo, Transparência e democracia participativa para o Bairro Butantã , Zona Oeste, na Subprefeitura de Butantã e também para a cidade toda.
O projeto do Parque tecnológico da cidade de São Paulo privilegia a reunião de oito setores que mais representam a atividade empresarial e científica da região metropolitana de São Paulo, . São segmentos fundamentais que colaboram com a modernização da estrutura industrial brasileira e para a geração de soluçôes para os problemas metropolitanos. São eles:
- Tecnologia De Informação,- Biotecnologia e Saúde,- Bens de Capital,- Novos Materiais
- Eletroeletrônica- Energia,- Química Fina e Petroquímica.- Indústrias criativas
A ambição do parque é preencher a lacuna que existe para o fortalecimento das cadeias produtivas desses setores, atendendo às demandas de cada um deles, e identificar a oferta atual de ciência e tecnologia disponível para que o desenvolvimento sustentável se retroalimente. Várias demandas dizem respeito à necessidade de infra-estrutura específica para o desenvolvimento de negócios no ambiente do parque tecnológico, bem como a reunião de agentes de capacitação, certificação e atores financeiros que garantam a velocidade necessária para tomadas de decisões estratégicas. Um primeiro estudo foi realizado pela Secretaria de Desenvolvimtno Economico do Estado de São Paulo em parceria com o Cietec - Centro Incubador de Empresas Tecnológicas e apontosu os seguintes pontos que devem ser levados em conta e são prioritários na proposta de implantação do Parque Tecnologico da cidade de São Paulo:
1) Geral
-Aprovar, regulamentar e implantar a Lei da Inovação Paulista;
-Oficializar, regulamentar e apoiar a Rede Paulista de Incubadoras, tendo como base a RAITEC;
-Apoiar a ampliação do escopo da Rede Metrológica do Estado de São Paulo, principalmente no que se refere à certificação de conformidade nacional e internacional;
-Criar um programa de extensionismo tecnológico, em parceria com o SIBRATEC do governo federal;
-Prover o Parque de serviços que agilizem a criação de empresas de base tecnológica e o registro de seus produtos/serviços;
-Induzir o uso do poder de compras do Estado, para estimular a inovação tecnológica nas empresas paulistas, de maneira a ampliar a inserção dessas empresas nos mercados interno e externo;
-Integrar cientistas, governo e a classe empresarial, visando estabelecer uma dinâmica de transferência de tecnologia e conhecimento entre os atores;
-Criar cursos de nível médio (técnico) e de nível superior (engenharia e tecnologia) nas áreas selecionadas;
-Criar um núcleo de RH (emprego e estágio) voltado à inovação tecnológica.

2) Para Micro e Pequenas Empresas
-Criar linha de apoio à inovação, á certificação, à capacitação tecnológica e à utilização de serviços técnicos especializados;
-Fomentar a criação de espaços físicos de 100 m2 a 500 m2 dentro do Parque, que as MPEs possam alugar por um período de até 10 anos;
-Estimular a criação e a ampliação da indústria de capital empreendedor (venture capital);

3) Para Centros de P&D&I
-Backbone de dados interligando principais datacenters de SP, se tornando uma infra-estrutura viável para trabalho com apoio de Vídeo Conferência, alta disponibilidade dos serviços oferecidos, alto nível de desempenho em taxas de transferência e estímulo a aplicação de inovações tecnológicas;
-Fomentar a criação de laboratórios de P&D&I em parceria com as ICTs e empresas públicas e privadas, voltados para as tecnologias portadoras de futuro, tais como nanotecnologia, biotecnologia, energias limpas e renováveis, etc.;
-Incentivar as atividades de P&D&I por meio da cooperação entre ICTs e empresas, voltadas para o desenvolvimento de produtos/serviços em convergência digital
-Centro para prototipagem e design;
-Prédio central (ambiente centralizador) contendo correios, escritórios com os principais courriers, (facilitando a importação de material biológico), escritório da ANVISA, restaurantes e pequenos auditórios;
-Empresas especializadas em estudos de toxicologia.
Além disso, a necessidade mobilização dos setores publico e privado é essencial.

http://www.nossasaopaulo.org.br/forum/index.php?op=proposta&proposta=591&url=L2ZvcnVtL2luZGV4LnBocD9vcD1wcm9wb3N0YV9saXN0YQ==

As Indústrias Criativas e o Brasil

Julio Daio Borges é editor do DigestivoCultural.com

Para quem ouviu falar da era da informação, o conceito de indústrias criativas não é completamente novo. Qualquer cidadão do mundo hoje observa que, desde o século XX, caminhamos para uma economia menos concentrada no tradicional modelo industrial e mais ligada à geração de idéias. Para usar uma imagem bastante próxima, uma economia menos de hardware e mais de software. Uma economia criativa, se tomarmos a expressão original em inglês para o que, em português, chamamos de “indústrias criativas”.

O objetivo aqui é mostrar a quantas andam as indústrias criativas no Brasil. Temos um “parque industrial criativo” competitivo em nosso País? O que está sendo feito para que essa nova economia se desenvolva? O governo brasileiro é parceiro das indústrias criativas? Quais as vantagens e desvantagens para a “economia criativa” no País? Estas e outras questões serão abordadas, em maior ou menor grau, embora se esteja muito no início dessa corrida e o Brasil, por mais que a história da industrialização no País diga o contrário, tem grandes chances de se destacar.

Quando Bill Gates se desligou da IBM e partiu para a fundação da Microsoft, na década de 70, provavelmente não tinha total consciência do movimento que promovia, em termos de paradigma, mas estava coroando, com seu exemplo, uma nova era da economia contemporânea. Se seu antigo empregador, a International Business Machines (IBM), carregava sua finalidade até no nome (uma empresa produtora de “máquinas para negócios”), a Microsoft, sua nova empreitada, indicava igualmente sua finalidade no nome – mas era uma empresa não de hardware (maquinário), como a IBM, e sim de software (programas e soluções lógicas). Gates, menos por bravata do que por realização própria, nos anos posteriores, havia decretado não só o fim da supremacia da IBM, no mercado de computadores, mas havia inaugurado – junto com outras empresas e outros empreendedores, é bem verdade – um tempo em que o capital humano era pela primeira vez mais valioso do que os bens de produção, desde o século XVIII, com a revolução industrial.

O estilo de aquisições da Microsoft, que se revelou nas últimas décadas um dos maiores gigantes do capitalismo em toda a sua história, consolida essa máxima: a empresa expande suas atividades não apenas num mundo de ativos fixos, mas também na direção do que se convencionou chamar de “realidade virtual”. Bill Gates quando encampa, por exemplo, a operação de um Hotmail (no fim dos anos 1990, por 400 milhões de dólares), não está adquirindo apenas o modelo de negócio e o conjunto de ações da conhecida empresa de e-mails gratuitos, mas sim reforçando suas fileiras de recursos humanos, e de idéias (além de uma inquestionável posição de mercado, é claro). Gates “capitaliza” a Microsoft, a cada aquisição, com um time cheio de novas soluções e de acertos criativos em termos de software (seja dentro ou seja fora da internet). Sua encarniçada disputa pelo mercado de navegadores, contra a Netscape no fim da década de 90, sua derrota na justiça em 2000 (que desacoplou o Internet Explorer do sistema operacional Windows), entre outros momentos de sua trajetória, ratificam esses princípios.

Para fechar com exemplos da “nova economia”, surge o Google, até uma aquisição possível (mas não concretizada) da Microsoft. O buscador hoje bilionário de Larry Page e Sergey Brin rompe ainda mais radicalmente com o modelo industrial do passado: o Google agrega em seu sistema uma “informação” que já existe – a própria internet – e devolve-a reempacotada para um mercado que, por meio do consumo de anúncios indexados, sustenta as atividades da empresa (o mercado de internautas atrás de orientação). O Google não vende “fisicamente” nada (como a Microsoft, seus pacotes e seu suporte). O Google, para não dizer que não tem ativos fixos, conta com a eficiência de seu algoritmo de busca, a genial idéia de seus criadores de Stanford, e, além de aprimorá-lo ad infinitum (desdobrando suas atividades em agregadores de notícias, comparadores de preços, etc.), conta com um poderoso sistema de processamento (via servidores no dito mundo real), e é só. O Google, no limite, junta pessoas, ponto.

São dois exemplos reveladores do momento atual. Na era das “indústrias criativas”, o movimento é cada vez mais nessa direção. Em vez de concentração de ativos, uma rede espalhada e – por que não? – descentralizada de “produtores”. Em vez de uma hierarquia rígida e de uma linha de produção montada, um esquema de trabalho mais no sentido “colaborativo” e uma cadeia que não se encerra no produto final mas, sim, se realimenta indefinidamente (vide o sistema operacional Linux, de código aberto ou open source, que recebe intervenções dos próprios usuários – exemplo, aliás, seguido de perto pelo Windows, ainda que tardiamente, em sua “abertura” para as universidades). Em vez de criações proprietárias, onde tradicionalmente se cobra, digamos, por “direitos autorais” (copyright), uma realização onde as trocas são o ponto culminante do processo ou onde, ainda, o produto final são as próprias “conversações” (no sentido do Cluetrain Manifesto) – os diálogos entre os produtores, através do intercâmbio de informações (por mídias várias), e não uma obra acabada ou sequer uma conclusão “final” (vide, na esfera da comunicação, o fenômeno dos blogs – onde emissor e receptor se confundem e o “produto” são, justamente, as discussões geradas).

A indústria cultural, ou as indústrias culturais (no sentido menos pejorativo), sente(m) os efeitos da mudança como poucas. No mercado fonográfico, para usar o exemplo mais eloqüente e vertiginoso, assiste-se à substituição progressiva de um modo de produção industrial ou em série (LPs, CDs ou DVDs) por um consumo de música em rede, onde uma vez irradiado o material original (sobre o qual os direitos supostamente incidem) perde-se o controle de sua distribuição, pois o movimento não acontece, como antes, de maneira centralizada e gradual, mas, sim, ocorre de pessoa a pessoa, de usuário a usuário, ultrapassando inclusive fronteiras físicas, nacionais ou internacionais. A informação – no caso, a faixa, a peça ou a canção – vira imediatamente commodity, já que cai para sempre e irreversivelmente em domínio público, não apenas em função dos programas de troca de arquivos (uma “música”, no reino digital, não é mais que – como um texto, uma imagem – uma coleção de bits & bytes) – que apenas aceleram ou catalisam o processo –, mas por conta da rede física, que visivelmente existe e que veio para ficar, ainda que amparada por outras redes como a telefônica e a de TV a cabo: a internet, a rede mundial de computadores.

O Brasil, por incrível que pareça, e ainda que timidamente, participa, em menor grau, claro, disso tudo. Afinal, a essa constatação se alia o fato básico de que o País tem uma das “internets” mais representativas no cenário global, tanto em termos quantitativos quando qualitativos. Basta lembrar, para usar um exemplo bem prosaico de comunicação em rede (mesmo que em estágio primal): a rede de relacionamentos impulsionada pelo mesmo Google, o Orkut. Desde seu lançamento, no ano passado, que os brasileiros atingiram posição de destaque, quando não invadiram de todo os nós da comunidade do onipresente sistema de busca. Evidente que não é exemplo estrito de indústria criativa, pois essa rede específica não tem fins econômicos (não algo que se afirme em definitivo), mas ressalta uma faceta tipicamente brasileira (gregária) no processo, que, não por acaso, alimentou a criação de outras redes similares em que, ao contrário do Orkut, se explora amplamente suas potencialidades comerciais (vide Fulano.com, MeuGrupo.com.br e Link).

Entrando agora no âmbito mais restrito da cultura, como produção cultural, o Brasil está mais que capacitado para competir globalmente – independente da internet (ou da rede) daqui, pelo simples fato de que a nossa cultura sempre teve uma posição de relevância. Mesmo que a discussão entre no limite do gosto, as dimensões continentais do País, a mistura da influência entre América, Europa e África, a posição hegemônica na América do Sul e, mais além, na América Latina já serviram, por si, de motivação favorável para a inclusão de nossa cultura, e das nossas “indústrias criativas”, entre as mais representativas do globo. Tomando alguns domínios, fica claro porque o Brasil tende a ocupar, mais e mais, um lugar de destaque.

Na música, nossa relevância é indiscutível, apesar da barreira da língua. Afinal, é sabido: entre a música popular marcante do século XX, está a dos Estados Unidos, a de Cuba e a do Brasil. Com a crise das grandes gravadoras (explicitada anteriormente), o mercado da música, principalmente o alternativo, começa a se lançar em iniciativas de nicho e a fazer uso da rede de modo favorável a si – para angariar público, para promover shows e para, portanto, prover o sustento da produção numa era “pós-direito autoral”.

No cinema, vivemos o boom das realizações digitais e igualmente dos festivais nacionais, todos alavancados pela retomada, via leis de incentivo, a partir de 1994. A rede ainda não é suporte fundamental para o cinema, mas vai ser já (vide o Google Video). E saindo da esfera das pequenas iniciativas, a indústria angaria menções importantes, mais notadamente as do Oscar e as de Cannes (todos devem se lembrar dos feitos, nessa área, de Walter Salles Jr. e de Fernando Meirelles – aliás, cooptado por Hollywood).

Na literatura, nosso maior fenômeno, nada lisonjeiro (em termos de valor), é Paulo Coelho. O autor que, na sua noite de autógrafos na Inglaterra, consegue atrair mais público do que David Beckham (no dia anterior); o autor que, para não ser maciçamente pirateado no extremo Oriente, tem tiragens astronômicas e lançamentos mundiais lá com exclusividade; o autor que, no Brasil, a cada livro, consegue, simultaneamente, ser capa de todos os semanários e de todos os cadernos culturais. Tirando Paulo Coelho, assistimos ao boom de pequenas editoras e de autores novos (quase todos na internet – sendo, portanto, lidos em Portugal e no mundo hispano-americano); sem contar os medalhões, de gosto duvidoso, geralmente best-sellers da Companhia das Letras (Jô Soares, Chico Buarque, Drauzio Varella), traduzidos em algumas dezenas de idiomas, adaptados para cinema e convidados para eventos literários aqui e no exterior.

Nas artes plásticas, mais uma vez graças à internet, a arte digital brasileira está atravessando fronteiras, ganhando destaque em exposições virtuais e sendo convidada para Bienais como a de Florença. Foi o caso, por exemplo, da artista da Web Daniela Castilho, que de repente acordou com um e-mail e com uma carta (em papel) para uma exposição física na Europa (detalhe: ela nunca havia exposto fora da internet; muito menos no Brasil). Em termos globais, e de mainstream, temos a Bienal de São Paulo que, desde sempre, tem relevância mundial – apesar de ser alvo de ataques, a cada edição, e de querelas envolvendo o gosto.

Apesar de todas as críticas que atualmente se faz ao Ministério e ao Ministro da Cultura, Gilberto Gil, ele se revela hoje um dos mais antenados, com essas novas realidades, dentro do Governo. Gil é a favor do software livre (open source); Gil engrossa o coro do computador popular (arrastado mas que um dia sai); e Gil, sempre que pode, abraça para si a discussão de direitos autorais, na nova era pós-internet, puxando temas da mais extrema vanguarda como o Creative Commons.

Para concluir, podemos dizer que o Brasil tem indústrias criativas competitivas, sim, e que, apesar do histórico pouco estímulo que se dá ao empreendedorismo e, mais amplamente, à cultura no País, estamos vivendo uma época cheia de indicações promissoras (muitas, é claro, ou a maioria, não vão se realizar). Vale lembrar, também, novamente, o impulso das leis de incentivo, a partir de 1994, com a Rouanet, que fez renascer o cinema e que multiplicou, nas metrópoles, os tais centros culturais. A internet é um fator decisivo nessa nova fase de globalização das indústrias criativas e o Brasil, mesmo com as suas inúmeras vítimas da “exclusão digital”, ocupa uma posição de destaque na World Wide Web – o que nos permitirá assistir, ainda, a muitas vitórias das nossas indústrias criativas.

http://www.digestivocultural.com/upload/juliodaioborges/FGV_200508.doc

Conjunto de Atividades que Compreende a Indústria Criativa

(Márcio Ferreira Pereira)

Para o Departamento de Cultura, Mídia e Esporte do Governo Britânico (2006),
indústria criativa é aquela indústria que tem origem na criatividade, habilidade e talento individual e que tem um potencial de crescimento econômico e de criação de empregos através da exploração da propriedade intelectual.
A expressão indústria criativa é relativamente nova (JAGUARIBE, 2004). Este
termo surgiu na Inglaterra como objeto de política pública no final dos anos 90, no
contexto das novas ações implantadas em decorrência da ascensão do “New Labour” de
Tony Blair (COSTA, 2005). O termo, inserido no contexto do processo industrial, tem como elementos fundamentais a criatividade e a possibilidade de exploração via direitos intelectuais.
De acordo com Ana Jaguaribe (2004), “as indústrias criativas representam um
conjunto de atividades econômicas emergente, que ultrapassa os limites tradicionais
entre a produção e o consumo. As atividades econômicas que compõem o núcleo das
indústrias criativas não são, por si mesmas, novas. O desenho arquitetônico, a moda, a publicidade, a produção áudio-visual e a música são todas atividades associadas à
primeira revolução industrial que adquiriram, no entanto, uma dimensão econômica e
social totalmente nova com a globalização e o surgimento da sociedade da informação”.
Assim, as indústrias criativas envolvem o intercâmbio de serviços e produtos, sendo que elas adquirem valor econômico por meio de sua distribuição.
O conjunto de atividades que compreendem as indústrias criativas abrange
um número bastante amplo, incluindo: a publicidade, o desenho arquitetônico, o
vídeo, a cinematografia, a fotografia, a música, os jogos de computador, a
publicação eletrônica, a rádio, a televisão e a moda. Apesar de não estarem interrelacionadas no sentido tradicional de um setor industrial unificado, “estas
atividades econômicas têm em comum o fato de todas estarem centradas na
produção de textos, imagens e símbolos” (JAGUARIBE, 2004).
Alguns dos problemas que este conceito apresenta é que, primeiro, as estatísticas
econômicas e relativas ao desenvolvimento para as indústrias criativas são muito
escassas, além disso, os métodos de classificação das indústrias criativas não são
homogêneos o suficiente para permitir análises comparativas. Por essa razão é que a
UNESCO (2006), bem como Mignaqui, Szajnberg e Ciccolella, adverte que o termo
indústria criativa variará de acordo com o contexto em que é utilizado, ou seja,
dependerá, muitas vezes, do país em questão e da respectiva estratégia de política
pública em jogo.
Importante notar que a distribuição de produtos criativos, em particular os
setores de áudio-visual e mídia, apresenta grave desequilíbrio quando comparamos
países desenvolvidos e em desenvolvimento. Há uma forte concentração desse mercado
nos países desenvolvidos, provocando assim o aludido desnível. Entretanto, enfatiza
Ana Jaguaribe (2004) que, “apesar das dificuldades associadas à distribuição, o mercado global de indústrias criativas é caracterizado pelas oportunidades que oferece. As
indústrias criativas não constituem apenas uma forma especial de produção, mas
também representam um sistema particular de consumo. Seu potencial de crescimento
deriva do aumento da demanda gerada pela atividade econômica e da demanda social
prevalecente”.
Oportuno notar que as estatísticas relativas às indústrias criativas nem sempre
estão disponíveis. Isto se vê com muita freqüência nos países em desenvolvimento,
onde as indústrias criativas continuam a fazer parte da economia informal. Apesar disso, fica evidente, quando se tem acesso a alguns dados, que o desempenho dessas indústrias
na América Latina e na Ásia não tem sido insignificante. Em países como o Brasil, o
México, a Colômbia e a Argentina, as indústrias criativas hoje representam cerca de 3% do PIB (OAS Culture Series and Andres Bello Cultural Agreements 2003).
A evolução tecnológica afeta as indústrias criativas de variadas formas. “Como
produtores de textos, imagens e informações, as indústrias criativas se beneficiam das inovações tecnológicas relacionadas à circulação de informações, especialmente por meios digitais, porém é importante destacar que, embora as inovações tecnológicas
possam ressaltar ou facilitar a criatividade, elas são incapazes de impulsioná-las. Assim, projetos baseados em computadores têm alterado a prática do desenho arquitetônico, sem, no entanto, aumentar a oferta de talento arquitetônico” (JAGUARIBE, 2004).
Como apontado no verbete de indústria cultural, no âmbito da música gravada, o
avanço tecnológico tem promovido enormes benefícios. Neste campo, porém, também é
possível observar um estímulo de oferta de talento, uma vez que as etapas da produção
musical se tornaram mais acessíveis por conta desse avanço tecnológico. Assim, é queum músico, que antes dependia de uma grande gravadora para vencer as etapas de um
processo de produção de uma obra musical, agora tem ferramentas tecnológicas mais
acessíveis para, autonomamente, controlar este mesmo processo, provocando esta nova
realidade um aumento de oferta de talento.
Entretanto, assiste razão à Ana Jaguaribe (2004) quando afirma que “a
digitalização possui significados diferentes de acordo com a indústria específica.
Avaliar seu impacto continua sendo uma tarefa complexa, visto que a tecnologia está
distribuída de forma desigual e que a maioria dos países ainda não implantou a infraestruturanecessária para difundir o novo paradigma em larga escala”.

http://www.cult.ufba.br/maisdefinicoes/INDUSTRIACRIATIVA.pdf

Indústrias Criativas

Universidade Federal Fluminense

A indústria criativa é o setor da economia que tem sua origem na criatividade, habilidade e talento individuais, possuindo o potencial para a criação de riqueza e empregos através da geração e da exploração da propriedade intelectual.

Suas atividades compreendem as atividades de cinema e vídeo, fotografia, música, artes cênicas, artes visuais, mercado de artes e antigüidades, rádio e televisão, artes e entretenimento, artesanato, editoras e editoração, publicidade, design, design gráfico, moda e alta costura, internet, software interativo de lazer, software educacional, serviços de software e computadores, mobiliário, arquitetura, gastronomia e partes do turismo.

A economia criativa promete ser um dos principais motores do desenvolvimento no século XXI. No Brasil, a indústria criativa, particularmente nos segmentos cultural e de entretenimento, já se encontra razoavelmente desenvolvida, representando, segundo o IBGE, cerca de 6% do PIB, tendo crescido cerca de 500% em 10 anos, gerando cerca de 1,8 milhão de empregos. No Rio de Janeiro, esse percentual também é elevado, destacando-se a produção audiovisual, cênica e musical. O segmento do setor das industrias criativas é a principal fonte difusora da cultura de uma nação.

A cultura e a criatividade são inerentes a qualquer povo. No Brasil, essas capacidades têm sido um fator de diferenciação e de afirmação da nacionalidade diante da crescente globalização.

As manifestações culturais permeiam todo o tecido social brasileiro, dos centros intelectualizados a periferia. Diante dos novos desafios globais, particularmente no que tange a distribuição e criação de conteúdos, notadamente aqueles ligados às novas tecnologias digitais, torna-se importante capacitar empresas a enfrentá-los com sucesso.

Cabe destacar que a Incubadora de indústrias criativas da UFF se alinha com o pensamento expresso na Agenda 21 da Cultura, discutida e aprovada em Barcelona, em maio de 2004.

Entre seus modelos de desenvolvimento, destaca-se o Plano Barcelona 22, discutido e aprovado pela sociedade da municipalidade de Barcelona para o desenvolvimento sustentável local para o próximo século, baseado na economia criativa.

Reiterando a visão de sustentabilidade da incubadora da UFF como um todo, vale lembrar que as indústrias criativas são sabidamente não-poluentes, tendo as idéias e o pensamento como principais matérias-primas.

http://www.incubadora.uff.br/industrias_criativas.html

Indústrias Criativas:uma boa oportunidade

Por Supachai Panitchpakdi*

A economia mundial teve nos últimos cinco anos uma extraordinária expansão e as indústrias criativas estão na vanguarda deste crescimento. Estas indústrias – que incluem a produção e distribuição de bens e serviços que usam capital intelectual como principal componente – estão no cruzamento das artes, da cultura, dos negócios e da tecnologia.

As indústrias criativas implicam a interação de setores tradicionais que fazem uso intensivo da tecnologia e estão voltadas para os serviços: desde a arte folclórica, dos festivais, livros, pinturas e das artes da interpretação até à indústria cinematográfica, da radiodifusão, animação digital e videojogos, bem como a campos mais voltados para os serviços, como os serviços arquitetônicos e de publicidade. Todas estas atividades utilizam amplamente habilidades criativas e podem gerar lucro através do comércio e dos direitos de propriedade intelectual. (DPI).

Nas nações mais adiantadas a economia criativa é um componente principal do crescimento econômico, do emprego e do comércio. Um estudo recente mostra que na Europa cresce 12% mais rápido do que a economia em geral. Uma pesquisa da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) mostra que as indústrias criativas estão entre os setores emergentes mais dinâmicos no comércio mundial. Durante o período 2000-2005, o comércio de bens e serviços criativos aumento à média anual sem precedentes de 8,7%. As exportações mundiais de produtos criativos chegaram a US$ 445,2 bilhões em 2005, enquanto em 1996 era de US$ 234,8 bilhões.

Os países desenvolvidos dominam neste mercado. Mas, muitas nações em desenvolvimento estão se beneficiando pelo auge das indústrias criativas, já que suas exportações aumentaram enormemente, passando de US$ 55,9 bilhões em 1995 para US$ 136,2 bilhões em 2005. Este aumento é atribuído principalmente à China, que se converteu no primeiro exportador mundial de bens criativos em 2005. Alguns desses bens gozam de crescente popularidade nos mercados mundiais e entre eles estão filmes e softwares da Índia, a produção televisiva mexicana e os produtos de animação digital da Coréia do Sul.

O desenho – e o artesanato – são os bens criativos dos países em desenvolvimento mais competitivos nos mercados mundiais. No total, entre 1996 e 2005 as exportações mundiais de audiovisuais triplicaram e as de artes visuais duplicaram. A parte do leão nos lucros obtidos com produção criativa fica para os direitos de propriedade intelectual, as licenças e a mercadotecnia e distribuição. Infelizmente, para os países em desenvolvimento a maioria deste dinheiro vai para grandes empresas estrangeiras. Por exemplo, os artistas e produtores jamaicanos de reggae receberam apenas 25% da renda mundial obtida por suas gravações.

Esta particular quantia deve ter mudado desde então devido aos acontecimentos revolucionários nos novos meios de comunicação e pelo uso da Internet. O problema subjacente, entretanto, provavelmente não seja alterado substancialmente. Portanto, são necessárias soluções inovadoras para corrigir essas distorções sistêmicas dos mercados. Por exemplo, reforçar as políticas da competição, abordar o problema das lacunas no atual regime dos DPI e desenvolver entidades arrecadadoras eficientes.

A maioria dos países em desenvolvimento ainda não é capaz de aproveitar suas capacidades criativas para estimular o desenvolvimento. Na África, por exemplo, embora haja abundância de talentos, seu potencial continua subutilizado. A parte do continente no comércio global continua sendo muito marginal, menos de 1%, apesar dos acentuados aumentos recentes. O caso é o mesmo para outras regiões em desenvolvimento, como reflexo tanto de debilidades nas políticas domésticas quanto nas tendências sistêmicas globais.

Em nível doméstico, os países em desenvolvimento, em geral, terão de melhorar a qualidade em toda a cadeia produtiva de valores, estabelecer mecanismos institucionais e financeiros para apoiar artistas e criadores independentes e atrair investimentos para facilitar a formação de empresas conjuntas e as co-produções. A associação entre os setores público e privado necessitará ser promovida; é necessário melhorar as políticas da competição e também redobrar a consciência no campo dos DPI. Devem, ainda, ser criadas oportunidades para o acesso a tecnologias avançadas e para incrementar o uso de novos modelos comerciais e informações, bem como de ferramentas para dominar as tecnologias da comunicação para alcançar novos mercados, incluindo o comércio Sul-Sul.


Também há restrições em nível internacional, relacionadas com o acesso aos mercados e às práticas comerciais não competitivas que surgem na estrutura oligopólica do mercado, especialmente, nas indústrias audiovisual e digital. A concentração de canais de mercadotecnia e de redes de distribuição em uns poucos importantes mercados; o acesso limitado ao crédito regional e multilateral e a exclusão tecnológica se combinam para por em perigo a competitividade das indústrias criativas das nações em desenvolvimento.

Mas, não há dúvidas sobre o potencial que têm estas indústrias nos países em desenvolvimento e seria uma lástima não utilizá-lo. O fato de esta indústria ser conhecida tanto pela criatividade quanto pelo capital as torna particularmente adequadas para países que são ricos em herança cultural e talento criativo, mesmo se sofrerem falta de mão-de-obra especializada, infra-estrutura básica e investimentos estrangeiros diretos. É hora de ajudar as nações em desenvolvimento para que aproveitem ao máximo estas novas oportunidades.

*Supachai Panitchpakdi, secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
Fonte: IPS/Envolverde

http://www.rts.org.br/artigos/industrias-criativas-uma-boa-oportunidade-para-paises-em-desenvolvimento

Cultura rende muito dinheiro, afirma ex-ministro de Blair

RAUL JUSTE LORES
da Folha de S.Paulo

No Reino Unido, a cultura movimenta 7% do PIB. Em Londres, a chamada indústria criativa (de moda a galerias de arte, de entretenimento a arquitetura e design) já é a segunda mais importante, após o mercado financeiro.

O British Council trouxe na semana passada a São Paulo um dos maiores responsáveis em transformar política cultural em prioridade de governo e grandes investidores.

Ministro da Cultura de 1997 a 2001, no primeiro mandato de Tony Blair, Chris Smith fez um mapeamento inédito do mundo cultural no país, que mostrou sua força a fim de arrancar mais verbas do ministro da Economia, Gordon Brown, futuro premiê britânico.

Smith conseguiu que lucros da loteria do governo financiassem as artes e instituiu entrada franca nos museus. "Mais turistas e mais atividade cultural, com mais patrocinadores, revertem em mais impostos ao governo." Leia trechos da entrevista que ele deu à Folha.

FINANCIAMENTO
Acesso a empréstimos é fundamental. Os artistas não falam a língua dos bancos. Eles sabem de design, não de crédito. Vivem em um mundo mais caótico, não aprenderam a redigir um "business plan" [plano de negócios para abrir uma empresa]. São necessários mecanismos para criar pontes entre os dois lados.

RESPONSABILIDADE
Há empresas que preferem apostar apenas em nomes famosos, mas acho que, na hora de divulgar sua responsabilidade social, ela tem de mostrar onde o dinheiro foi investido. Se é uma empresa responsável, tem de se preocupar pelo tecido social do país, em ajudar quem tem dificuldades. Colocar dinheiro só no sucesso garantido não pega bem.

BOM INVESTIMENTO
Ao investir em um artista ou em uma produção, descubra o valor cultural da iniciativa, se é interessante, excitante. Ou se é educativa, se colabora com a revitalização urbana, o que faz pelo resto da sociedade. Em qualquer dos dois casos, original ou socialmente generoso, já será um bom investimento.

LEI ROUANET
Isenções fiscais podem ser uma boa idéia, mas deixam inteiramente ao mercado a decisão de quem ganha patrocínio. Até certo ponto, isso pode ser bom, mas também significa que trabalhos novos, audaciosos ou menos conhecidos terão dificuldade para conseguir apoio.

O que buscamos é um sistema de financiamento misto. Apoio estatal direto, filtrado por um corpo profissional; apoio municipal e estadual; patrocínio privado direto ou a partir de incentivos. Renda comercial, a partir de ingressos, cafés e lojas. Ter um balanço dessas fontes dá fôlego e estabilidade ao financiamento.

BAIRROS CRIATIVOS
Governo deve ajudar a facilitar locais de trabalho a preços acessíveis. As indústrias criativas criam "clusters" [conjuntos de empresas de atividades similares], as agências publicitárias são vizinhas a ateliês de artistas, de moda, a estúdios fotográficos. Em várias cidades britânicas, artistas foram estimulados a se instalar em bairros centrais decadentes, em lugares espaçosos a preços baratos.

O desafio é que, em dez anos, a área se regenera demais, os preços sobem e expulsam os artistas novamente. Como esse problema foi resolvido em algumas cidades? Algumas prefeituras compram velhos armazéns abandonados, antigos mercados, restauram e alugam para iniciantes. Quando a empresa cresce, eles têm de mudar, e o espaço fica vago para novos empreendedores. Ter espaço disponível para novos talentos é fundamental.

BALÉ E GOLFE
Antigamente, um empresário patrocinava uma companhia de balé porque sua mulher gostava, ou uma ópera, porque seu diretor era colega no golfe. Hoje, isso se tornou raro. As empresas querem marketing, associar seu nome com propostas vanguardistas, glamourosas ou de alta qualidade.

CULTURA É ÍMÃ
A vida cultural beneficia as cidades, elas têm os equipamentos e o clima que atraem as pessoas mais criativas. Quanto mais vibrante a vida cultural, mais ela atrai pessoas que querem morar e trabalhar lá, o que provoca um efeito positivo no mundo dos negócios. Os executivos querem vir a Londres a toda hora. E abrir escritórios lá. As famílias deles também querem morar em Londres.

TALENTOS
Precisamos pensar em como o sistema educacional pode descobrir talentos e preparar carreiras criativas. Como se escreve, desenha, canta ou dança nas escolas. As crianças precisam ser encorajadas a desenvolver seus talentos. As faculdades e institutos de design, moda e artes precisam recrutar esses talentos nas escolas.

SEM ESTABILIDADE
Notei que os dirigentes culturais no Brasil trocam a toda hora, de acordo com o clima político. Nessa área, você precisa de estabilidade, fazer coisas a médio prazo. Também faltam camadas de profissionais da cultura que dirijam departamentos sem critérios políticos.

MUSEUS DE GRAÇA
Lutei para que os museus britânicos não cobrassem entrada, e esse é um dos grandes feitos da minha gestão. Hoje, quando se pergunta a qualquer turista por que está visitando o Reino Unido, as respostas sempre giram em torno das indústrias criativas. O governo britânico ganha mais dinheiro com os impostos sobre as entradas de teatro do que investe no setor.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u301710.shtml

As indústrias de conteúdos digitais na América Latina

Cosette Castro - Observatório da Imprensa

A chegada da TV digital em diferentes países latino-americanos, como México e Brasil (2006) e Uruguai (2007), os estudos sobre rádio digital, os conteúdos para celulares, para internet ou o cinema digital são temas que vêm gerando um grande número de artigos (jornalísticos e acadêmicos), pesquisas, dissertações e teses nos países da região. E é sobre isso que este artigo trata: apresenta a pesquisa “As Indústrias de Conteúdos na América Latina”, inédita na América Latina, desenvolvida em 2007 no marco da Sociedade da Informação cujos resultados já estão disponíveis na web. A proposta foi conhecer a realidade da infra-estrutura tecnológica de 11 países da região quanto ao uso das mídias digitais, assim como os preparativos desses governos para desenvolver as indústrias de conteúdos em cada local.

Um estudo desta abrangência se justifica. As chamadas indústrias de conteúdo vão mais além do que representar a identidade cultural dos seus povos e a possibilidade de gerar bens simbólicos que movem sentimentos, comportamentos e novos hábitos nas pessoas através dos produtos culturais que geram. As indústrias de conteúdo digitais e a convergência entre as diferentes mídias podem ser um importante fator no desenvolvimento sustentável e na geração de políticas públicas que colaborem para a inclusão social e digital dos países latino-americanos.

Trata-se de um mercado que move cifras situadas na casa dos bilhões de dólares, dinheiro que pode fazer diferença na qualidade de vida de uma nação. Exemplo disso são os dados apresentados pela Unesco informando que em 2004 – ou seja, há quatro anos – o peso econômico das chamadas indústrias culturais e criativas no mundo era de 1,3 bilhões de dólares anuais. No entanto, a América Latina representava apenas 30% do total de bens culturais, já que o maior aporte de produção de conteúdos vinha do Reino Unido, dos Estados Unidos e da China.

No decorrer do trabalho diferenciamos as indústrias criativas (que incluem museus, design e/ou artesanato etc.) e as já conhecidas indústrias culturais da nova indústria de produção de conteúdos que vem sendo gestada em diferentes partes do mundo, inclusive o Brasil, ainda que de forma incipiente. Consideramos indústrias de conteúdos digitais aquelas indústrias (culturais, de entretenimento ou digitais) que se utilizam das novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) e da convergência tecnológica para seduzir seus públicos; mas, à diferença de décadas anteriores, hoje as pessoas têm a possibilidade de produzir conteúdos e gerar informações, independente da existência de uma empresa de comunicação. Ou seja, podem deixar de atuar apenas como receptores dos bens culturais ofertados na sociedade para terem a oportunidade de – também – produzirem conteúdos.

Independente do nome dado a essa indústria – de conteúdos, criativas ou culturais – o certo é que países como Estados Unidos há muito descobriram as vantagens de aplicar no setor cultural. A participação do setor audiovisual no PIB daquele país é de 6% e se trata de uma indústria que garante empregos diretos para 1,5 milhões de pessoas. Além disso, exporta suas produções televisivas e cinematográficas para praticamente todos os países do mundo. Hollywood detêm 85% do mercado cinematográfico global e 77% das produções televisivas apresentadas no continente latino-americano vêm dos Estados Unidos.

O relatório sobre Indústrias de Conteúdo na América Latina baseia-se também em outros estudos recentes, como o da consultoria norte-americana PriceWaterhouse Coopers ou o DigiWorld América Latina 2007, que reforçaram a importância e urgência da pesquisa na região. Em 2007, a PriceWaterhouse Coopers apontava a América Latina como uma das regiões mais rentáveis para o recebimento de bens e serviços multimeios. As projeções da consultoria indicam uma expansão de 6,3% nas receitas de informação e entretenimento no período 2004-2008. Já o DigiWorld América Latina 2007 analisou o desenvolvimento digital (telecomunicações, desenvolvimento da informação, eletrônica de consumo e serviços audiovisuales) da região e as principais economias que a integram. Segundo aquele relatório, o mercado continuava em crescimento e em 2005, os latino-americanos representavam uns 7% do mercado digital, um espaço dominado atualmente por Europa e pelos Estados Unidos, com 71% do total. Ou seja, há um amplo mercado para a produção de conteúdos na região a espera de oportunidades para serem desenvolvidos, sejam eles no setor de e-governo, e-saúde, educação ‘a distância, e-trabalho, e-justiça ou entretenimento, entre outros.

Países e áreas de estudo

Na pesquisa realizada para CEPAL estudamos Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, México, Uruguai e Venezuela. Esses países foram escolhidos por apresentarem diferentes níveis de desenvolvimento no campo das TICs, diferentes níveis de implantação da TV digital, assim como de produção de conteúdos para as mídias digitais e de inclusão social. Metodologicamente, a eleição dos 11 países foi definida a partir do desenvolvimento das indústrias culturais e das indústrias de conteúdos, como pode ser observado a seguir:

Estados com expressivo desenvolvimento das indústrias culturais e com implantação das indústrias de conteúdo; com o sistema de TV digital e projetos de TICs já definidos, como Brasil e México ;
Estados com expressivo desenvolvimento das indústrias culturais e projetos de TICs já definidos, mas sem definição do sistema de TV digital, como Argentina, Colômbia, Chile e Venezuela;
Estados com baixa expressão em termos de indústrias culturais, com políticas de utilização das TICs, mas sem definição do sistema de TV digital, como Bolívia, Equador, Paraguai e Peru.
Também delimitamos as áreas de estudo que compõem as indústrias de conteúdo para acompanhar a realidade e o nível de desenvolvimento em cada um dos países:

indústria editorial
indústria de cinema
indústria da televisão
indústria do radio
indústria discográfica
indústria de conteúdos para celulares
produção musical independente [a criação musical não foi incluída porque tanto a indústria discográfica quanto a produção musical independente incluem a criação musical]
produção de conteúdos para Web
indústria de jogos eletrônicos
conteúdos produzidos para a convergência digital (cross media) [para chegar a esse detalhamento foram usados diversos instrumentos de pesquisa, entre eles entrevistas e questionários qualitativos aplicados em empresas de produção de conteúdos, instituições governamentais e universidades. Também serviram de subsídios documentos oficiais, notícias (impressas ou virtuais), páginas Web, relatórios e livros].
A partir dessas informações, apresentamos um panorama da situação dos países estudados que, cremos podem representar a situação da região como um todo, assim como apontar tendências no que se refere a:

o nível de desenvolvimento das indústrias culturais nos países pesquisados;
o nível de concentração vertical e horizontal das empresas ou grupos de comunicação nos países estudados;
a área de atuação e o tamanho dessas indústrias;
a preparação das empresas comerciais, produtoras independentes ou instituições para o mundo digital;
a preparação das empresas de telefonia fixa ou de celulares para a produção de conteúdos para celulares e para a convergência tecnológica;
as estratégias dos governos no que diz respeito a investimentos e apoio ‘as indústrias de conteúdo e produção independente.
Categorias para conhecer (e então entender) a realidade da região

Embora não se trate de um estudo conclusivo, as questões acima foram desdobradas em 19 categorias para possibilitar um olhar abrangente sobre os temas analisados. Esse conjunto de dados e informações, inédito nas pesquisas do gênero, permitiram conhecer as indústrias culturais que existem atualmente nos 11 países, assim como as indústrias de conteúdos em formação, suas debilidades e fortalezas. As 19 categorias analisadas são:

âmbito de atuação (empresas tem âmbito nacional, regional ou local?);
amplitude geográfica (empresas de comunicação ou telecomunicações de cada país estudado estão centralizadas na capital federal ou estão distribuídas por todo país?);
amplitude (o país possui empresas ou grupos que atuem fora das fronteiras nacionais?)
exportação de conteúdos (os países estudados exportam algum tipo de conteúdo?)
indústria do cinema, discográfica e editorial (problemas comuns dessas indústrias na região)
jogos eletrônicos (os países estudados desenvolvem essa indústria?)
infra-estrutura de televisão (que tipo de conteúdos analógicos são desenvolvidos?)
TV por assinatura (índices de utilização da TV por assinatura, assim como percentuais de conexões ilegais)
TV digital (quais as decisões de cada país?)
rádio (qual a estrutura de rádio analógico de cada país?)
rádio digital (fase de estudos de cada país)
infra-estrutura de telefonia fixa (percentual da população que possui telefone em casa)
infra-estrutura para celulares (uso de aparelhos pré-pagos e pós pagos)
infra-estrutura de internet (índices de acesso da população a internet e possibilidades de inclusão digital)
produção independente (qual apoio e desenvolvimento em cada país?)
legislação (diferenças entre as legislações?)
línguas usadas em cada país
propriedade intelectual e gestão de direitos do autor (situação de cada país?)
convergência tecnológica (avanço nos países estudados)
Essas categorias foram fundamentais para a definição de indicadores e para a nomenclatura utilizada na elaboração do Observatório Latino-Americano sobre Indústrias de Conteúdos (OLICON). A proposta do Observatório – que aparece detalhada na segunda parte do relatório sobre as indústrias de conteúdos na América Latina – foi aprovada oficialmente em fevereiro deste ano pelos países participantes da Reunião Interministerial da Sociedade da Informação realizada em El Salvador e o projeto deverá ser implementado ainda em 2008.

Algumas descobertas

E o que mostra a pesquisa de prático? Entre outras possibilidades, permite comparar a situação brasileira em relação aos demais países que fazem parte do estudo, onde observamos que a realidade da região se repete em várias das 19 categorias. Como exemplos, podemos afirmar que:

os latino-americanos possuem mais de 75% de celulares pré-pagos, refletindo o poder aquisitivo da população. O fato da região usar majoritariamente pré-pagos poderá refletir também na aquisição de conteúdos digitais via celular, caso as empresas insistam em cobrar por esses produtos;
o uso de “gatos” ou TV por assinatura ilegal não é uma regra brasileira, já que ocorre em todos os países. A diferença é que poucos países oferecem dados oficiais sobre o tema, como ocorre no Chile, México e Peru.
Quanto a indústria editorial, sabe-se que o hábito de leitura da região se restringe a dois livros/ano, embora Argentina e México sejam importantes editores. Já o Brasil, o Peru e a Bolívia têm sua produção incrementada pela edição de livros didáticos, comprados pelos governos de cada país;
as indústrias de cinema e discográfica apresentam os mesmos problemas da concorrência com o mercado de copias piratas em todos os países estudados, sendo que, em alguns casos, as versões pirateadas chegam a 70% do mercado. Esse fato também se repete na copia de livros, embora com índices menores.
existe produção de jogos eletrônicos na Argentina, Brasil, Chile, México e Uruguai e, entre eles, o Brasil detém o quarto lugar na produção mundial;
quando se trata de produção independente para TV, o Brasil perde para Argentina, Colômbia, México e Venezuela, países que contam ou com forte incentivo do governo ou onde as empresas de radiodifusão têm tradição em comprar a produção independente;
nos conteúdos para celulares, o Brasil é um dos países da região que mais vem incentivando a produção, inclusive através da realização de concursos pelas empresas do setor;
a produção de conteúdos para diferentes plataformas tecnológicas ou voltado para a convergência digital representa um espaço de mercado ainda a ser descoberto na região e mostra um grande potencial exportador, já que existem 450 milhões de pessoas que falam Espanhol e outros 250 milhões que falam Português no mundo, sem contar as possíveis traduções para outras línguas ou o uso regular de línguas indígenas em oito dos 11 países estudados.
Para finalizar

Acreditamos que são necessárias algumas ações urgentes (assim como a definição de políticas públicas) para desenvolver as indústrias de conteúdo e a convergência digital na América Latina. Elas deverão ser realizadas tanto no plano local (em cada país) como no âmbito regional. São elas:

Desenvolvimento de um marco legal sobre o papel dos radiodifusores e empresas de telecomunicações (nacionais ou regionais) no que diz respeito à produção de conteúdos e a convergência tecnológica;
Desenvolvimento de políticas públicas que protejam as indústrias nacionais em relação à chegada de produtos similares internacionais, seja no que diz respeito a cota de mercado para a produção de filmes ou para produção de conteúdos para diferentes meios de comunicação;
Defesa e apoio às rádios comunitárias, produzidas em geral por associações ou sindicatos e que – com exceção de um ou dois países como é o caso da Venezuela – em geral são tratadas como caso de polícia e não como questão social e estratégica para os governos e para a democratização da comunicação;
Atualização das páginas Web que tratam de temas como as indústrias culturais, sobre questões culturais ou sobre os meios de comunicação, pois a maioria peca pela falta de atualização;
Sistematizar ou atualizar as informações sobre radiodifusão, telecomunicações, sobre concentração dos meios, assim como oferecer informações sobre os hábitos culturais de seus habitantes;
Envolver as universidades de cada país e da região na discussão dos temas tratados na pesquisa, estimulando o desenvolvimento de pesquisas e projetos tanto na área de produção de conteúdos, como no desenvolvimento de inovações tecnológicas;
Desenvolvimento de políticas para redes de banda larga, incentivando iniciativas como a Rede Clara para propiciar os fluxos de conteúdos [no Brasil a Rede Clara é representada pela Rede Nacional de Pesquisa –RNP que inclui atividades em 360 universidades públicas], os estudos na região, assim como as atividades do Observatório Latino-americano de Indústrias de Conteúdo, que deverá apresentar ambientes colaborativos. Aliás, a criação do Olicon dará visibilidade às ações de cada país em particular e da região como um todo, possibilitando o monitoramento dos avanços na indústria de produção de conteúdos, assim como o desenvolvimento de projetos com convergência tecnológica.
Publicado por José Murilo Junior
Categoria(s): Cultura Digital

http://www.cultura.gov.br/site/2008/03/05/as-industrias-de-conteudos-digitais-na-america-latina/

Um bom exemplo da USP

pensata
27/05/2008

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/colunas/gd270508.htm

Na semana passada, relatei aqui um péssimo exemplo da USP - sua Escola de Aplicação, apesar de estar dentro de um dos principais centros de saber do mundo, dispondo, em seu entorno, de bibliotecas, de museus e laboratórios, está longe de ser um modelo de excelência. Agora, cito um bom exemplo daquela universidade, justamente por significar uma invenção para melhorar a educação pública.

Resultado da experimentação de diversas turmas da pós-graduação da Fundação Vanzolini, ligada à Poli, será apresentado nesta semana um software destinado a exibir para uma escola o que existe ao seu entorno e que poderia ser utilizado por pais, alunos e professores. É uma espécie de Google de bairro, voltado às possibilidade de aprendizado aproveitando-as as redes de saúde, de cultura, de geração de renda, de assistência social, de esportes e lazer.

Esse programa, ainda em fase de testes, já chamou a atenção do Ministério da Educação e do Unicef, interessados em usá-lo, inicialmente, em regiões metropolitanas. Motivo: talvez sirva como um mecanismo de baixo custo para aproximar a escola da comunidade, além de aumentar o horário de aprendizado. Com um simples apertar de um botão, um professor poderia saber a quem encaminhar um aluno com problemas auditivos. Ou, para alunos mais agressivos, saberia oferecer programas de esporte ou apoio psicológico. Assim como teria a alista de atividades culturais e profissionalizantes gratuitas.

Uma das tarefas da universidade deveria ser ajudar a educação pública, com cursos de formação de professor, mecanismos de gestão, produção de currículos e até de jogos --a invenção daqueles alunos dá uma pista de que se pode fazer quando se juntam olhar inclusivo, articulação comunitária e pesquisa acadêmica.

Indústria criativa movimenta R$ 381 bilhões no país, diz Firjan

21/05/2008

Pesquisa leva em conta áreas como cinema, música, arquitetura e design.
Volume é equivalente a 16,4% do PIB brasileiro.
indústria criativa movimenta ao redor de R$ 381,3 bilhões no país, o equivalente a 16,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, e emprega 35,2 milhões de pessoas. Os dados constam de um levantamento inédito feito pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e leva em conta áreas que vão desde cinema e música até arquitetura e design, incluindo atividades indiretas, relacionadas a apoio em produção e serviços.

"No Brasil não havia sido feito, ainda, um levantamento assim, talvez porque não se prestou atenção que este é um dos setores que vêm crescendo no País", disse a diretora de desenvolvimento econômico da federação, Luciana de Sá. Segundo ela, no mundo, o comércio internacional de bens e serviços criativos cresceu a uma taxa anual de 8,7% de 2000 a 2005, bem acima da variação de 5% das exportações totais destes itens, com base em dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).



Atividades criativas, no critério da Unctad, são as que usam no ciclo de produção e distribuição itens que "usam a criatividade e capital intelectual como insumos primários". A pesquisa da Firjan levou em conta doze atividades principais: artes visuais, publicidade, expressões culturais, televisão, música, artes cênicas, filme e vídeo, mercado editorial, software, moda, arquitetura e design, além do grupo de serviços indiretos.



Estas doze áreas principais da cadeia criativa respondem por 2,6% do PIB brasileiro. O Rio de Janeiro é o Estado com o maior peso da chamada indústria criativa dentro do PIB local (4%), seguido de São Paulo (3,4%). Já as atividades relacionadas a estas áreas (material de artesanato, publicidade, instrumentos musicais, registro de marcas e patentes, dentro outras) equivalem a 5,4% da economia do País e as atividades de apoio (consultoria especializada, insumos, maquinários) a 8,4% - somando o peso total de 16,4%.

http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL489883-9356,00.html

Forum das Indústrias Criativas em Salvador

18.04.05

Centro Internacional das Indústrias Criativas deve ser referência para a Indústria Criativa Mundial

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, lançou hoje, dia 18 de abril, em Salvador, as bases do Centro Internacional das Indústrias Criativas. A cerimônia aconteceu no Hotel Bahia Othon Palace (Avenida Oceânica, 229 - Ondina), às 9h30, quando foi iniciado o Forum Internacional das Indústrias Criativas.


Em entrevista coletiva à imprensa, o ministro explicou que o Fórum Internacional faz parte de uma negociação e articulação que já dura um ano, desde a XI UNCTAD – Conferência da Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento. "O Centro Internacional das Indústrias Criativas deve beneficiar todo mundo, mas acredito que ele será mais importante para os países em desenvolvimento", explicou Gil. Os três dias de discussão no Fórum servirão para o desenvolvimento de um "mapa" e de um "desenho" de como será o Centro Internacional das Indústrias Criativas - CIIC. Leia o discurso do ministro.


Atualmente, acredita-se que a Economia Criativa represente 1% do PIB nacional, "este valor chega a 7% do PIB em estados como Rio de Janeiro e Bahia, mas isto precisa ser estendido para o Brasil inteiro", explicou o ministro. Gil ainda ressaltou que, em países desenvolvidos como os Estados Unidos e também no continente europeu, já existe um reconhecimento da importância da cultura para a economia.

O CIIC deve se tornar uma referência para a organização, o fomento e a garantia de acesso público, de informação para a iniciativa privada, para a sociedade civil, para os governos e entidades não-governamentais. "Vai ser um marco para as Indústrias Criativas", disse o ministro. Uma das funções do Centro deve ser a discussão sobre políticas na área e a legislação, além do intercâmbio entre as demandas locais e globais. "O local e o global vão interagir e regulamentar a questão da Indústria Criativa", afirmou.


Também devem entrar para a pauta do Centro, discussões polêmicas como a questão das patentes e promoção de diálogos entre todos os agentes da Indústria.

Durante a coletiva, o Gilberto Gil enfatizou a necessidade de descentralização e falou sobre a fraqueza econômica de setores populares que podem apresentar alguma dificuldade para a implementação de uma Economia Criativa mais atuante.

O ministro da Cultura falou da necessidade da parceria entre as iniciativas pública e privada e disse que devemos ampliar o conceito de Cultura. "Para mim, tudo que não é natureza é Cultura", afirmou Gil. Ele também acredita que o Centro vai proporcionar um aumento da oferta de bens e serviços culturais, o que já é predominante na economia de países desenvolvidos.

Os jornalistas aproveitaram para comentar o caso de denúncia do jogador argentino Desábato, acusado de racismo. "O episódio mostra que houve um posicionamento do cumprimento da lei no sentido de inibir o racismo. A relação da sociedade com o ocorrido também foi positiva, inclusive na Argentina, onde 62% da população foram contra a atitude do jogador", opinou.

Também estiveram presentes o ministro do Conselho do Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner, o governador do Estado da Bahia, Paulo Souto, o prefeito de Salvador, João Henrique, os embaixadores Rubens Ricupero, Edgar Telles Ribeiro representando o ministro Celso Amorim que não pode comparecer, Carlos Lopes, representante da ONU, o reitor da Universidade Federal da Bahia, Naomar de Almeida Filho, Juca Ferreira, secretário-executivo do MinC e Paulo Miguez, secretário de Políticas Culturais.

No final da coletiva, o Secretário do Audiovisual do MinC, Orlando Senna entregou um Prêmio do Festival de Cinema do Recife oferecido ao ministro Gilberto Gil pelo conjunto de sua obra como músico e compositor.


(Luis Turiba, Nanan Catalão, Marcelo de Trói)
(Assessoria de Comunicação Social do MinC)

http://www.cultura.gov.br/noticias/noticias_do_minc/index.php?p=9261&more=1&c=1&pb=1

Nasce a Vila Mídia em São Paulo

15/04/2008

Erika Vieira
Heitor Augusto


Em breve, a Vila Leopoldina, na zona oeste da cidade de São Paulo, acabará ficando conhecida como a Vila Mídia. Isso porque o bairro ganhará novos espaços de produção audiovisual, além dos já existentes.

Nos últimos anos, produtoras de peso como a Quanta, a O2, a Ink, a Neogama e a Villa Boas vêm escolhendo o local por ser uma das poucas regiões da capital que ainda possui grandes áreas disponíveis. A localização, perto da Marginal Pinheiros, uma das principais vias de acesso da cidade, também favorece o transporte dos equipamentos. Outro fator que chamou a atenção dos empresários foi a existência de amplos galpões de fábricas desativadas, o que facilitou a adaptação física das produtoras de cinema. “São Paulo tinha uma carência de estúdios. Onde ter uma área superior a 10 mil m2 quando já estava tudo cheio? Há quatro anos, percebi que, nesse lado da Ceagesp, existiam áreas de baixo custo, porque aquela era uma região abandonada em decorrência das alagações e das empresas falidas que havia ali”, conta Marcelo Fujii, gestor operacional da Quanta.

As instalações deram tão certo que a Ink está levando mais oito empresas do grupo para o local. São elas: Margarida Flores e Filmes (produção audiovisual publicitária), Academia de Filmes (produção audiovisual para TV e Cinema), Academia de Cultura (ONG do grupo para projetos culturais), Ipanema (desenvolvimento de obras autorais para Cinema, TV e Literatura), Base7 Projetos Culturais (concepção, planejamento, desenvolvimento e coordenação de projetos culturais), Cia. das Licenças (licenciamento de produtos culturais), Ilegal FX (serviços de pós-produção e efeitos), Colméia (desenvolvimento e produção de conteúdos para novas mídias). No total, a nova sede ocupará um terreno de 10 mil m2 com 13 mil m2 de área construída.

O bairro também abrigará o novo prédio da Cinemateca e a sede da TV Brasil em São Paulo. “A Vila Leopoldina está caminhando para tornar-se a Vila dos Artistas, com diversas empresas do ramo de cultura, conteúdo e entretenimento instaladas lá. Isso atrai investimentos não só das próprias empresas em suas instalações mas também em melhorias para o bairro. Com o aumento da circulação, é inevitável que se invista também em serviços e em infra-estrutura”, diz Paulo Schmidt, presidente da Ink.

Agora, o quadrilátero do audiovisual, como é chamado pelas pessoas que trabalham ali, prepara-se para passar por um plano de reurbanização. Apesar da melhora, a região ainda enfrenta problemas. Além do acúmulo desordenado de caixas, os moradores têm de conviver com a prostituição e o tráfico de drogas. “Não basta expulsar as pessoas. Temos de fazer um plano de reurbanização”, diz Fujii. Por isso a Quanta está intermediando o projeto entre a prefeitura e o empresariado local. Se aprovado, a Vila Leopoldina terá novas calçadas, melhor iluminação, mais árvores e galerias pluviais reformadas. Até o muro da Ceagesp deve ficar de cara nova com uma pintura de grafites que vai virar documentário.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/cbn/m_sp_150408.shtml

Economia da Cultura: Um Setor Estratégico para o País

01 de abril de 2008


"O PRODEC trabalha na formulação e implantação de projetos voltados ao desenvolvimento e à dinamização dos principais segmentos da Economia da Cultura no país"


Paula Porta
Assessora especial do Ministro da Cultura e
Coordenadora do Prodec

A produção, a circulação e o consumo de bens e serviços culturais começaram a ser percebidos como um segmento de peso na economia das nações já no pós-guerra. Mas foi apenas na década de 1970 que se aprofundou o interesse pelo setor e a Economia da Cultura passou a mobilizar pesquisadores em algumas universidades. Na década de 1990, ganha espaço nos órgãos internacionais de cooperação, começando a ser entendida como um vetor de desenvolvimento. Progressivamente órgãos como BID, PNUD, OEA, Unesco passam a incluir questões relacionadas à Economia da Cultura em seu escopo de ação.

O Banco Mundial estima que a Economia da Cultura responda por 7% do PIB mundial (2003). Nos EUA a cultura é responsável por 7,7% do PIB, por 4% da força de trabalho e os produtos culturais são o principal item de exportação do país (2001). Na Inglaterra, corresponde a 8,2% do PIB (2004), emprega 6,4% da força de trabalho e cresce 8% ao ano desde 1997.

A Economia da Cultura, ao lado da Economia do Conhecimento (ou da Informação), integra o que se convencionou chamar de Economia Nova, dado que seu modo de produção e de circulação de bens e serviços é altamente impactado pelas novas tecnologias, é baseado em criação e não se amolda aos paradigmas da economia industrial clássica. O modelo da Economia da Cultura tende a ter a inovação e a adaptação às mudanças como aspectos a considerar em primeiro plano. Nesses setores a capacidade criativa tem mais peso que o porte do capital.

As novas tecnologias, sobretudo a digital, criaram novos produtos, novas formas de produzir, de divulgar, de distribuir e de consumir, conseqüentemente, criaram novos modelos de negócio e novas formas de competição por mercados.

A Economia da Cultura é hoje o setor de maior dinamismo na economia mundial, tem registrado crescimento de 6,3% ao ano, enquanto o conjunto da economia cresce a 5,7%. A Economia da Cultura integra o segmento de serviços e lazer, cuja projeção de crescimento é superior à de qualquer outro, estima-se que cresça 10% ao ano na próxima década1. Esse potencial de crescimento é bastante elástico, pois o setor depende pouco de recursos esgotáveis, já que seu insumo básico é a criação artística ou intelectual e a inovação.

Além, de seu dinamismo, há um conjunto de características que vem conferindo à Economia da Cultura status de setor estratégico na pauta das estratégias de modernização e desenvolvimento:

a geração de produtos com alto valor agregado, cujo valor de venda é em grande medida arbitrável pelo criador;

a alta empregabilidade e a diversidade de empregos gerados em todos os níveis, com remuneração acima da média dos demais;

o baixo impacto ambiental;

seu impacto positivo sobre outros segmentos da economia, como no caso da relação direta entre a produção cultural e a produção e venda de aparelhos eletrônicos (tv, som, computadores etc.) que dependem da veiculação de conteúdo;

suas externalidades sociais e políticas são robustas. Os bens e serviços culturais carregam informação, universos simbólicos, modos de vida e identidades; portanto, seu consumo tem um efeito que abrange entretenimento, informação, educação e comportamento. Desse modo, a exportação de bens e serviços culturais tem impacto na imagem do país e na sua inserção internacional;

o fato do desenvolvimento econômico desse setor estar fortemente vinculado ao desenvolvimento social, seja pelo seu potencial altamente inclusivo, seja pelo desenvolvimento humano inerente à produção e à fruição de cultura;

o potencial de promover a inserção soberana e qualificada dos países no processo de globalização.

Diante de tantos atributos, criar mecanismos diferenciados e adequados de desenvolvimento e fomento da Economia da Cultura, que é baseada em grande parte em ativos intangíveis, é um desafio a ser enfrentado de imediato.

Afora o caso paradigmático dos EUA, que já não requer ação estratégica do Estado, podemos citar o exemplo da Inglaterra, que conta com um ministério das indústrias criativas, independente do Ministério da Cultura, como marco da crescente importância que o setor vem adquirindo nas economias nacionais. Do mesmo modo, já começam a se estabelecer programas em estados e, mesmo, em municípios, que identificaram vocações locais capazes de gerar dinâmica econômica.

A ECONOMIA DA CULTURA NO BRASIL
Nosso país possui evidente vocação para tornar a Economia da Cultura um vetor de desenvolvimento, baseado na sua diversidade cultural e na sua alta capacidade criativa.

O Brasil tem importantes diferenciais competitivos nesse setor:

a facilidade de absorção de novas tecnologias;

a criatividade e a vocação para inovação;

a disponibilidade de profissionais de alto nível em todos os segmentos da produção cultural;

a alta qualidade e a boa aceitação de nossos produtos culturais em diferentes mercados.

Além disso, o Brasil possui um mercado interno muito expressivo, onde a produção cultural nacional tem ampla primazia sobre a estrangeira. A música e o conteúdo de TV são exemplos robustos, em que o predomínio chega a 80%.

A conjuntura externa também é amplamente favorável, o Brasil está na moda e precisa consolidar os mercados conquistados e ampliar a presença de sua produção em novos mercados. É preciso que a cultura integre de forma vigorosa a pauta de promoção de exportações.

A participação da cultura nas atividades econômicas do país já é bastante expressiva, como mostram os números que começam a ser sistematicamente coletados pelo IBGE a partir do convênio firmado com o Ministério da Cultura, que também prevê a construção dos indicadores da Economia da Cultura e que deverá culminar no estabelecimento do PIB da Cultura.

Atuam no país 320 mil empresas voltadas à produção cultural, que geram 1,6 milhão de empregos formais. Ou seja, as empresas da cultura representam 5,7% do total de empresas no país e são responsáveis por 4% dos postos de trabalho.

O salário médio mensal pago pelo setor da cultura é de 5,1 salários mínimos, equivalente à média da indústria, e 47% superior à média nacional.

A segunda pesquisa lançada pelo convênio MinC-IBGE, o anexo Cultura à Pesquisa de Informações Básicas Municipais (a Munic 2006); levantou dados relativos à presença da cultura nas 5.564 cidades brasileiras. O investimento público dos municípios em cultura ainda é bastante restrito, não ultrapassa a média de 0,9% do orçamento total das prefeituras (proporção praticamente idêntica ao orçamento do MinC frente ao orçamento da União). Recife atualmente é uma das poucas cidades onde esse índice é mais elevado, chega próximo ao recomendado pela Unesco (2%).

A pesquisa aponta números relativos a equipamentos e ações culturais. A presença de lojas de discos e dvds cresceu 74% em sete anos; o número de salas de cinema cresceu 20%, apesar delas estarem presentes em apenas 8,7% das cidades; já as videolocadoras estão em 82% das cidades brasileiras. O número de salas de espetáculo cresceu 55%; o de museus 41% e o de bibliotecas 17%. As rádios comunitárias estão em 49% dos municípios, superando as fms (em 34%) e as ams (em 21%); e a tv está em 95,2% dos municípios.

A atividade cultural mais presente nos municípios é o artesanato (64,3%), seguida pela dança (56%), bandas (53%) e a capoeira (49%), esta última além da expressiva presença no país é, ao lado da música, um dos segmentos que maior interesse despertam no exterior. Os festivais apresentam-se como a mais dinâmica forma de difusão cultural no país: 49% das cidades contam com festival de cultura popular, 39% com festival de música, 36% com festival de dança, 26% com festival de teatro e 10% com festival de cinema.

Os números confirmam que um dos principais gargalos no desenvolvimento da Economia da Cultura é a concentração e baixa capilaridade dos equipamentos culturais, que dificulta a circulação e o acesso a produtos e serviços. Dificuldade que é parcialmente suprida pelos festivais.

OS DESAFIOS
O desenvolvimento da economia da cultura exige mecanismos diversificados de fomento, diferentes da política de apoio via leis de incentivo fiscal. É preciso formular ações integradas e contínuas que enfrentem os principais gargalos do setor.

Implantar uma estratégia para esse setor - envolvendo financiamento, legislação, capacitação e regulação - é um desafio imediato se quisermos aproveitar oportunidades geradas pelas novas tecnologias que estão alterando modelos de negócio e formas de acesso a mercados. Esse desafio envolve Estado, entidades setoriais e iniciativa privada e requer:

implantar agendas para o desenvolvimento dos segmentos mais dinâmicos e estratégicos;

aprofundar o conhecimento sobre os segmentos para subsidiar as políticas de fomento e estimular o planejamento estratégico de empresas e de políticas públicas. Isso envolve a construção de indicadores, a coleta de dados primários, os diagnósticos setoriais, o estudo das cadeias produtivas e dos modelos de negócio, o mapeamento dos empreendedores;

capacitar empresas e produtores, sobretudo no que diz respeito aos novos modelos de negócio, à inserção no mercado (nacional e internacional) e à gestão de propriedade intelectual (essa uma absoluta prioridade face os riscos de desnacionalização de propriedade intelectual);

identificar vocações regionais e oportunidades no mercado interno e externo, que ajudem a definir o foco prioritário das ações;

capilarizar e dinamizar a distribuição, a circulação e a divulgação de produtos e serviços culturais, já que este tripé é hoje o maior gargalo no desenvolvimento de todos os segmentos da Economia da Cultura;

enfrentar a necessidade de atualizar a legislação pertinente ao setor e identificar as necessidades de regulação.

AS AÇÕES DO MINC E O PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA DA CULTURA
A cultura como economia com características que exige ações diferenciadas para promover seu desenvolvimento é um dos eixos prioritários da ação do MinC. Em 2006, criamos o Programa de Desenvolvimento da Economia da Cultura (Prodec).

Trabalhamos com o termo Economia da Cultura ao invés de Economia Criativa ou Indústria Criativa por entendermos que o primeiro, ao invés de delimitar o campo, o alarga, pois abrange outros setores como ciência e tecnologia. Já o conceito de indústrias criativas circunscreve o campo aos setores regidos por patente e propriedade intelectual.

A propriedade intelectual é, sem dúvida, um dos grandes ativos da Economia da Cultura, mas muitos segmentos economicamente dinâmicos, como o das festas populares, não são necessariamente geradores de propriedade intelectual. O termo indústrias criativas não dá conta do conjunto da economia da cultura no Brasil.

A Economia da Cultura, no âmbito do Prodec, abrange todos os setores que envolvem criação artística ou intelectual, individual ou coletiva, assim como os produtos e serviços ligados à fruição e à difusão de cultura (como museus, patrimônio histórico, salas de espetáculo, turismo cultural etc.). São eles:

Todos os segmentos artísticos (música, audiovisual, artes cênicas, artes visuais)

Telecomunicações e radiodifusão (conteúdo)

Editorial (livros e revistas)

Arte popular e artesanato

Festas populares

Patrimônio Histórico Material e Imaterial (suas formas de utilização e difusão)

Software de lazer

Design

Moda

Arquitetura

Propaganda (criação)



Consideramos os pólos mais dinâmicos da Economia da Cultura no Brasil:

Música (produtos e espetáculos).

Audiovisual (em especial conteúdo de tv, animação, conteúdo de Internet e jogos eletrônicos).

Festas e expressões populares (onde se destacam o Carnaval, o São João, a capoeira e o artesanato).



O Ministério da Cultura, desde o início da atual gestão, vem dialogando e estabelecendo parcerias com órgãos federais de fomento e pesquisa para inclusão em seus escopos de trabalho de ações voltadas à Economia da Cultura. No caso dos bancos, há um trabalho importante de adaptação de mecanismos de fomento às características de um setor que tem como base ativos intangíveis, o que costuma ser uma barreira, principalmente no tocante às garantias para uso de instrumentos diferenciados de crédito.

Com o BNDES desenvolvemos linhas especiais de crédito para a instalação de salas de cinema, programas editoriais e produção de conteúdo audiovisual (uma linha para a música já está em estudo). Com o Banco do Nordeste, trabalhamos na adaptação das linhas de microcrédito para a realidade do setor, o que resultou numa mudança significativa no tocante às garantias. Com o Banco da Amazônia as ações seguem na mesma linha. Estão em curso formulações com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.

O convênio com o IBGE, firmado em 2004, que já resultou nas pesquisas mencionadas, prevê a coleta sistemática de dados sobre a cultura, a construção de indicadores e deve culminar no estabelecimento do PIB da cultura. Com o Sebrae trabalhamos na elaboração de seu termo de referência para orientar as ações voltadas à cultura, e devemos avançar na formulação de programas de capacitação para atender às necessidades das empresas do setor. O IPEA tem sido parceiro no encaminhamento de pesquisas.

Na área de cooperação internacional, além de convênios para troca de experiências e ações de reciprocidade com os centros de Buenos Aires e Barcelona, estabelecemos parceria com o BID para a contratação de pesquisas de cadeia produtiva e consultorias especializadas.

A execução das ações no âmbito do PRODEC pressupõe parcerias institucionais com órgãos governamentais (federais, estaduais e municipais), órgãos internacionais, associações setoriais e outras organizações com reconhecida capacidade de atuar diretamente junto aos empreendedores do setor.

Alguns estados brasileiros já começam a planejar ações de fomento à Economia da Cultura, principalmente relativas à coleta de informação e à capacitação.



O Prodec está estruturado em 4 eixos de ação:

coleta e produção de informação: diagnósticos, construção de indicadores, coleta e sistematização de dados, estudos e pesquisas. Visa dar suporte à formulação e implantação de mecanismos de fomento aos diversos segmentos da Economia da Cultura.

capacitação:

a) de empreendedores, cooperativas e empresas: visa promover a qualificação e atualização de profissionais, cooperativas e empresas do setor, com foco em gestão empresarial, novos modelos de negócio, gestão de propriedade intelectual, inovação e exportação, de modo a qualificar e ampliar sua inserção no mercado interno e externo.

b) de técnicos de nível médio: visa estimular a formação de profissionais especializados de acordo com a identificação de demandas dos segmentos da cultura.

promoção de negócios: apoio a feiras de negócios setoriais (não inclui feiras exclusivamente de produtos), exportação, logística de distribuição de bens e serviços, atualização tecnológica e de infra-estrutura e outros. Visa promover a ampliação do volume de negócios dos diversos setores, o aumento das exportações e o barateamento de produtos e serviços, ampliando o consumo e o acesso.

formulação de produtos financeiros: visa dar suporte às instituições financeiras e de fomento na formulação de produtos adequados às necessidades dos segmentos da Economia da Cultura.

O programa trabalha na formulação e implantação de projetos voltados ao desenvolvimento e à dinamização dos principais segmentos da Economia da Cultura no país. Busca articular projetos de modo a enfrentar gargalos. A ação do programa não se dá através de apoio a projetos pontuais.

Fomentar o desenvolvimento da Economia da Cultura requer ações diferenciadas tanto das tradicionais políticas de fomento via fundos de cultura ou leis de incentivo fiscal, quanto das políticas de fomento a outros setores da economia. Do mesmo modo, ações que tem por finalidade a geração de renda através da cultura apenas tangencialmente se relacionam com o desenvolvimento da Economia da Cultura.

Ainda é preciso evoluir muito, tanto nas ações de fomento, quanto na capacidade de formulação e planejamento por parte dos realizadores e organizações do setor. É preciso ultrapassar a lógica de projetos pontuais em prol de estratégias de desenvolvimento.

A diversa e sofisticada produção cultural brasileira, para além de sua indiscutível relevância simbólica e social, deve ser entendida também como um dos grandes ativos econômicos do país, pelo seu potencial de gerar desenvolvimento qualificado. É preciso reconhecer esse potencial e fomentá-lo, pois isso significa a geração de riqueza e inclusão social, além de uma inserção qualificada no país no cenário internacional.
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Economia da cultura tem crescimento acima da média

29 de fevereiro de 2008


Alessandro Soares / ASN - Agência Sebrae de Notícias, 29/02/2008
Espetáculos de circo, arranjos produtivos de entretenimento, incubadora de audiovisual e feiras de música marcam a atuação do Sebrae no apoio aos empreendimentos culturais

Brasília - As lojas de disco disfarçam, mas o modelo convencional do CD de fato agoniza. Para piorar, 2007 será lembrado pelo lançamento de In Rainbows, novo trabalho da banda britânica Radiohead, em que cada comprador decide quanto pagar para baixá-lo na internet, para desespero de gravadoras e lojistas. É também o ano marcado pela criação do Kindle, aquele aparelhinho com tela de 15 centímetros, que armazena até 200 livros.

Ainda é cedo para saber se o livro de papel será trocado por essa espécie de literatura mp3. Mas realmente os novos produtos culturais confundem e o futuro é nebuloso para a indústria cultural, o que não quer dizer que artistas e empresas do ramo vão falir. Ao contrário. A economia da cultura é o setor mais dinâmico da economia mundial. O crescimento médio é de 6,3% ao ano, enquanto o conjunto da economia cresce 5,7%.

O Brasil não registra números assim, mas a curva é ascendente. Para o IBGE (2003), mais de 269 mil empresas atuam na produção cultural brasileira, ocupando mais de 1,4 milhão de profissionais. Por conta disso, o Sebrae tem apoiado feiras de música, festivais de TV e cinema e projetos de exportação de músicas e programas de TV e até shows de circo. Um bom exemplo é o produtor circense Junior Perim, 35, do Rio de Janeiro.

Circo Crescer e Viver

Vítima do trabalho infantil, Junior aos oito anos já catava caranguejo no litoral fluminense. Aos 11, matava galinhas num abatedouro de São Gonçalo (RJ), em jornada diária de 15 horas. Só aos 14 seguiu novo rumo. Começou a estudar e ingressou em movimentos comunitários. Já adulto, atuava com jovens de baixa renda, com o programa social de arte-educação ‘Crescer e Viver’. Em 2003, o projeto virou uma organização não-governamental.

Hoje, Junior Perim coordena dois centros. Um deles fica em São Gonçalo, onde acontecem oficinas de teatro, dança, capoeira, grafite e basquete de rua para 200 pessoas carentes de 7 a 24 anos. Já na lona do circo da Praça Onze, no Rio, são treinadas 300 pessoas com o mesmo perfil, em 16 tipos de oficinas circenses (acrobacias, trampolim acrobático, malabares e equilibrismo).

Além de interlocutor internacional da Rede Circo do Mundo Brasil, junto ao Cirque du Soleil, e da chancela da Unesco, Perim foi cavando cada vez mais espaço. “Com o apoio do Sebrae no Rio de Janeiro, introduzi técnicas de economia criativa, pois entendia que a inclusão social exigia também inclusão econômica”, afirma. Para isso, concebeu o espetáculo ‘Vida de Artista’, com patrocínio da Petrobras, e passou a produzir e vender a marca do seu circo em bolsas, roupas e acessórios.

Para compor o elenco, Junior Perim recrutou dezenas de jovens carentes até selecionar a atual trupe de 15 pessoas. A trilha sonora foi composta por Daniel Gonzaga (filho de Gonzaguinha), que montou estúdio na lona, junto com a garotada. O figurino também foi criado no local.

Quem ainda não assistiu às primeiras temporadas do espetáculo, na Praça Onze, poderá conferir em fevereiro de 2008 no Circo Voador, na Lapa. A Veja Rio já o elegeu como segundo melhor espetáculo cênico da cidade. “Isso nunca havia ocorrido antes com circo. Só dava teatro. Agora quero mais. Estou negociando com a Petrobras uma turnê para 10 cidades brasileiras. E pode anotar: em 10 anos, o Crescer e Viver será o melhor grupo de circo do Brasil”.

APL de entretenimento e incubadora de audiovisual

O Sebrae no Rio também atua em Conservatória, distrito do município de Valença (RJ), onde existe um arranjo produtivo local (APL) de entretenimento, com 70 empreendimentos que geram 508 empregos. O carro-chefe é a música, com seresteiros que invadem as ruas tocando temas de Nelson Gonçalves, Vicente Celestino e Silvio Caldas. Não por acaso a cidade é repleta de museus desses e de outros artistas da Era do Rádio. “Em 2008, queremos criar uma rede de museus”, destaca Heliana Marinho, gerente de Economia Criativa do Sebrae Rio.

Com se observa, o Sebrae leva para as artes todas as suas ferramentas de gestão. Se em Conservatória apóia o APL de entretenimento, em Cataguases, Minas Gerais, também está presente na incubadora de cultura Fábrica do Futuro, focada no audiovisual. A cidade se orgulha do passado cultural e dos filmes de Humberto Mauro, grande pioneiro do cinema brasileiro.

Para o diretor da Fábrica do Futuro, César Piva, a incubadora não é de empresas, nem é tecnológica. “Estamos incubando um processo que estimule a cadeia da economia criativa. Também formamos um público ávido por cultura e profissionais atentos ao mercado da cidade, evitando o êxodo para a capital”.

Nesse sentido, Cataguases fervilha. Só em 2007, foram realizados o III Festival de Cinema dos Países de Língua Portuguesa (Cineport), o Circuito Mineiro do Audiovisual, e a oficina A Fotografia como Documentação, entre várias outras atrações. Para 2008, uma das novidades é o Festival de Ver e Fazer Filmes. “Tudo isso - aliado ao estudo estético e filosófico - é mais importante do que a manipulação técnica. Hoje, qualquer pessoa tem uma câmara na mão, com os aparelhos celulares. Mas para ter boas idéias é preciso mais esforço”.

Feira de música

No Ceará, o Sebrae igualmente apóia projetos audiovisuais, como o Festival Internacional da TV. Mas a maior presença é na música, a exemplo do Esquina Brasil, que promove cantores e instrumentistas locais e tem versões também da Paraíba e no Rio Grande do Norte. Criado pela Associação dos Produtores de Discos do Ceará (Prodisc), em parceria com o Sebrae, o programa produziu quatro CDs, com 70 bandas, nos mais variados estilos. Do renomado Quinteto da Paraíba à menos conhecida Dona Zefinha, que se apresentou recentemente na Feira de Música PopKomm, na Alemanha.

A excursão de Dona Zefinha foi facilitada com os contatos da Feira de Música de Fortaleza, que promoveu sua sexta edição, em agosto. No Recife, este mesmo evento foi realizado em fevereiro, no embalo das comemorações do centenário do frevo, onde pela primeira vez foi formada uma rodada de negócios para a música. A feira recifense registrou 174 reuniões. A previsão é de que em 12 meses os contatos da rodada gerem R$ 109 milhões.

Sapo Xulé

As cifras são também risonhas nas exportações de programas de TV, como para a produtora de São Paulo ‘Cinemas Animadores’, autora do seriado Sapo Xulé, feito em parceria com a canadense FRV. Orçado em R$ 5 milhões, o programa será exibido, em 2008, em emissoras do Canadá, França, Inglaterra e países da América Latina.

Para ser veiculado no Brasil, a produtora abriu mão da proposta inicial de capítulos de 22 minutos (modelo bem aceito no Canadá, mas recusado em nosso País), e resolveu criar intercomerciais de 2,5 minutos cada. “É muito bom para ser veiculado em aparelhos celulares, na internet e também na TV aberta”, aposta Sílvia Prado, diretora do projeto.

Como a Cinemas Animadores, várias outras produtoras têm bons motivos para brindar o novo ano. Na retrospectiva de 2007, fica na memória o grande avanço da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, que veio facilitar e muito a vida das empresas especializadas em produção cultural. E, independentemente das novas tecnologias, a previsão é de que a economia da cultura vai continuar crescendo.