segunda-feira, 21 de julho de 2008

Relatórios Internacionais State of the future

Aqui um material precioso que a equipe internacional do Projeto Millennium
condensou: todos os relatórios internacionais publicados desde a última edição do State of the Future.
Aqui vocês poderão ter acesso a uma síntese de cada um e o caminho para se chegar a cada estudo completo.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Estado vai investir mais de R$ 1 milhão em cultura [Espírito Santo]

O Sebrae no Espírito Santo e a Secretaria de Cultura do Espírito Santo (Secult) lançam, às 9h do dia 23 de julho, o Programa de Desenvolvimento da Cultura do Espírito Santo.

Com esse programa, pela primeira vez, o Espírito Santo terá um conjunto de projetos culturais de peso, incluindo um catálogo musical só com artistas do Estado. O material de divulgação inclui quatro cds e um dvd de clipes. São cinco ações principais para 2008.

Ao todo são 14 ações até 2009, somando R$ 1,018 milhão. Além do catálogo para promover a música local no Brasil e no exterior, o dinheiro também vai financiar uma pesquisa aprofundada sobre o folclore capixaba. Esse trabalho será transformado em site e em livro. Outro projeto é reunir em um manual os símbolos que remetem aos ícones visuais do Espírito Santo como, por exemplo, o beija-flor, a panela de barro, a casaca e o Convento da Penha.

O manual vai servir como base para o trabalho de designers, artistas, artesãos, arquitetos e publicitários. Ainda será realizado um estudo de como funciona a produção audiovisual no Estado, dos pequenos produtores aos clientes, passando por fornecedores e intermediários. Por fim, o “Programa de Desenvolvimento da Cultura do Estado do Espírito Santo” vai oferecer em 2008 também um curso gratuito para profissionais da área de cultura. O lançamento do programam,marcado para 23 de julho, acontece na sobreloja da Instituição no Estado.

Fonte: Gazeta Online

terça-feira, 8 de julho de 2008

Cultura e sustentabilidade

“A batalha pelo meio ambiente é uma batalha cultural”. Com essa afirmação, o secretário-executivo do Ministério da Cultura, Juca Ferreira, norteou sua palestra no 1º Congresso Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável, realizado em 2005 no Rio de Janeiro. Em seu discurso, Juca Ferreira abordou, entre outros temas, a importância da inclusão das questões humanas e culturais na defesa do meio ambiente. Fez uma associação visionária e deixou, em sua mensagem, a premissa fundamental para o sucesso de qualquer projeto sustentável: aliar-se à questão cultural.

A sustentabilidade está no cerne das discussões mundiais desde a Conferência de Estocolmo, na Suécia, em 1972, e, posteriormente, ganhou maior intensificação a partir da Conferência Rio-92, no Brasil. Sua relação com o desenvolvimento e a economia, entretanto, tem um viés importante que não tem sido mencionado quando se debate soluções para o futuro da humanidade: a estreita relação entre sustentabilidade e cultura.

Após a Revolução Industrial, em meados do século 18, a maioria dos países seguiu um modelo inglês de economia, baseado no conceito das “indústrias criativas”, com foco unicamente em crescimento econômico. Deixado de lado, o desenvolvimento sustentável ressurge, atualmente, como um dos pontos principais da denominada “economia criativa”. Mas esse desenvolvimento com novo foco só se viabiliza com a potencialização das culturas locais, como afirma Lala Deheinzelin, diretora da Enthusiasmo Cultural, Special Advisor on Creative Economy – South South Cooperation Special Unit – ONU. “É preciso uma mudança de cultura para migrar da idéia de consumo e de crescimento econômico exacerbado para a de suficiente, de qualidade, em detrimento da quantidade. E a cultura é duplamente importante nesse ritual, porque atua como meio e fim. Projetos de desenvolvimento baseados em cultura e criatividade são muito mais que solução econômica, funcionam também como solução para outras áreas”, diz.

Premissas como as expostas mostram que as propostas baseadas nos princípios da sustentabilidade funcionam melhor quando inseridas no contexto da cultura local. Essa é também a opinião do Ministro da Cultura, Gilberto Gil, compartilhada no Seminário da Sustentabilidade Cultural, realizado em Belo Horizonte (MG), em 2007. Para ele, “o desenvolvimento [econômico do planeta] não caminha sem uma especial ênfase no desenvolvimento da cultura local”. Gil acredita que, à medida que o indivíduo se conscientiza da repercussão de seus atos nas gerações futuras, desenvolve uma percepção sobre a importância da responsabilidade comum. “É preciso reforçar a consciência dessas culturas em relação ao seu próprio desenvolvimento”, explica.

Esse reforço vem sendo feito pontualmente por instituições como a ONG Verdever. Coordenada pelo arquiteto Sérgio Prado, a ONG alia conceitos de sustentabilidade a práticas culturais locais. Com essa base teve início o projeto Águas Mais Limpas, desenvolvido com as comunidades ribeirinhas de pescadores da cidade de Ubatuba, no litoral norte do Estado de São Paulo. A pesca artesanal, principal atividade de subsistência dessas comunidades, transmitida a cada geração, vinha sofrendo muito com a poluição dos mares. A cada saída para o mar, uma quantidade enorme de lixo vinha preso às redes e, sem uma proposta sustentável, era devolvido ao mar. “O projeto deu vida nova a esses dejetos, ensinando os pescadores a reutilizá-los de forma criativa”, conta Prado.

A partir da implantação do Águas Mais Limpas, todo o lixo recolhido no oceano é reaproveitado, sendo colocado ao sol para secagem e picado para servir de matéria-prima. Com as embalagens plásticas, os pescadores fabricam artesanato, além de faróis sinalizadores para as embarcações e equipamentos necessários para o píer. “Nossa idéia é trabalhar com o conceito de lixo zero. E essa atividade está gerando um arrastão coletivo e despertando a curiosidade de toda a comunidade local”, diz o arquiteto.

O leque de atividades do projeto prevê conscientização efetiva e ensino continuado, baseado em experiências diretas e práticas da própria comunidade. “Desde o material disponível até as técnicas utilizadas, tudo faz parte da cultura da comunidade, e há um envolvimento pessoal e coletivo. Nossa meta é limpar, educar e reconstruir. Os pescadores cuidam do mar e transformam sua atividade para algo além da rentabilidade e utilidade primária”, salienta Prado.

Com o trabalho desenvolvido em Ubatuba, Sérgio Prado é um dos que reforçam o coro de que os princípios da sustentabilidade só ganham corpo quando inseridos na cultura. “A verdadeira solução para a sustentabilidade está nessas pequenas ações baseadas em hábitos culturais, pois são mais fáceis de serem aceitas e postas em prática, de maneira que façam diferença”, afirma.

Paredes de taipas
Outro expoente da busca pela sustentabilidade pode ser encontrado na arquitetura, com o resgate de técnicas antigas de construção aliado à cultura local. Nesse sentido, um projeto que merece atenção é o Curadores da Terra, idealizado pela arquiteta Márcia Macul, com o intuito de viabilizar um centro de estudos em construções sustentáveis, nas comunidades de Almada e Camburi, divisa entre São Paulo e Rio de Janeiro.

“Essa região tem uma cultura caracterizada pela construção artesanal. São populações mais pobres que usam conhecimentos e técnicas antigas para construir moradias. Nossa proposta foi a de ensiná-los a utilizar itens que já tinham à disposição, como a própria terra, para construir suas casas”, explica Márcia. Com isso, a arquiteta montou oficinas de capacitação para a comunidade e uma casa-piloto, de 55 metros quadrados, em que as paredes luminosas são feitas com garrafas PET cheias de água, e as paredes estruturais, de taipa de pilão com terra retirada do canteiro.

Essas comunidades já utilizavam o PET para fabricar diferentes formas de artesanato, mas a proposta de utilizar o plástico também nas construções favoreceu o desenvolvimento econômico dos moradores. Com isso, o projeto ganhou repercussão e foi replicado em comunidades de Ilhéus, na Bahia.

O futuro em exemplos
Para a especialista internacional em economia criativa com foco em desenvolvimento local, Lala Deheinzelin, a articulação entre sustentabilidade e cultura desponta como uma estratégia preciosa para esse século. “O futuro é do local, da diversidade cultural e dos recursos naturais que nunca se esgotam, ou seja, da criatividade e da cultura de cada um”, diz. Lala defende que a sustentabilidade deve deixar de ser vista à luz do tripé clássico, porém obsoleto, que tem foco apenas nas áreas ambiental, social e econômica. “Esse tripé ganhou uma nova perna, que é a cultural, ou o simbólico. As pessoas precisam de projetos que utilizem saberes e fazeres tradicionais, porque o Brasil tem uma diversidade cultural enorme que, somada a matérias-primas únicas, dão nosso diferencial”, explica.

Como exemplos dessa diversidade cultural e criativa, Lala cita o caso da Cooperativa Cubo, de Cuiabá (MT). Baseado no conceito de uma economia solidária, o grupo criou um novo modelo de gestão, o cubo-cards, uma espécie de moeda para o mundo da música. Com isso, conseguiram projeção e estão desenvolvendo diversas atividades de destaque no cenário musical brasileiro. “Foi uma forma independente de criação, realização e transformação de processos. Por conta da diversidade cultural do nosso País, estamos bem à frente na concepção de novos modelos. E o Brasil é um ótimo lugar para testar novos formatos, devido à abertura histórica que temos para o novo, para incorporar transformações de maneira muito mais rápida que outros países”, diz.

Outro caso exemplar é o da Oscip ArteSol, um programa de artesanato solidário que trabalha com a revitalização do artesanato de tradição. Em sete anos de atuação, a ArteSol já implementou projetos em mais de 90 localidades, gerando trabalho e renda aos associados – verdadeiros protagonistas do desenvolvimento local.

A organização conduz projetos específicos para cada grupo e tipologia artesanal, com destaque para as oficinas de capacitação em diversos temas, como identidade, cultura e cidadania; de gestão e organização da produção; de aprimoramento do produto; e de relacionamento com o mercado. Com isso, a Oscip articula diálogos entre os próprios artesãos, mobilizando-os para o trabalho coletivo, e entre os artesãos e seus produtos, respeitando a identidade cultural.

“A ArteSol atua em todo o País e constata que cultura e criatividade são os únicos recursos que não se esgotam, mas se renovam e se multiplicam cada vez mais com o seu uso. Só isso já nos aponta a importância de trabalhar o conceito de sustentabilidade aliado à cultura”, ressalta Lala Deheinzelin.

Reconhecida como o maior evento literário da América Latina, a Festa Literária Internacional de Parati (FLIP), em sua sexta edição de 4 a 8 de julho, endossa a argumentação de Lala. Realizada pela Oscip Casa Azul, a FLIP envolve propostas de desenvolvimento sustentável de regiões ou municípios brasileiros, principalmente da região de Parati. “A FLIP é parte de um projeto maior, envolvendo ações nos espaços públicos com o objetivo principal de preservar e revitalizar o patrimônio histórico da cidade”, afirma um de seus criadores, Mauro Munhoz.

Segundo ele, o evento que transforma, por alguns dias, a cidade brasileira em capital mundial da literatura foi inspirado em grandes festivais da Europa, voltados para a literatura. As ações fazem parte do projeto Recuperação da Borda D’água de Parati e acontecem durante todo o ano, antes e depois da festa, com o objetivo de retomar características físicas e culturais da cidade. Uma das atividades anuais é o Programa Educativo Cirandas de Parati, que envolve quase toda a rede pública da cidade, totalizando 7 mil estudantes e 700 professores da região, que participam de atividades de incentivo à leitura, valorização e produção cultural. Também fazem parte do projeto a oferta de oficinas de poesia, de máscaras, de cordel e de ilustração.

“A FLIP não é só literatura. Como um processo potencializa o outro, a FLIP não seria a mesma sem o enraizamento do evento no ambiente social de Parati”, garante Munhoz. Com o que Lala Deheinzelin concorda absolutamente: “o único jeito de juntar uma comunidade em torno de uma ação é através de cultura”.

02/07/2008
Fonte: www.democratizaçãocultural.com.br